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Mudanças no sono antecedem puberdade
Estudo mostra que crianças passam a dormir cerca de 50 minutos mais tarde
O atraso para o descanso pode causar falta de sono, quando adolescentes têm de acordar cedo, o que afeta o aprendizado e o humor
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Os pais devem ficar atentos
ao sono dos filhos quando eles
chegam à puberdade -e mesmo antes disso. É o que sugere
um estudo israelense publicado na revista "Sleep", que mostra que, previamente ao surgimento dos primeiros sintomas
físicos típicos dessa fase, crianças com idades entre dez e 11
anos podem apresentar mudanças no padrão de sono.
Foram acompanhadas 94
crianças por dois anos. Elas
passaram a dormir cerca de 50
minutos mais tarde e tiveram
sono com duração mais curta
-37 minutos a menos, em média. Alguns entrevistados também começaram a acordar com
mais frequência à noite. Os meninos tiveram melhor qualidade de sono do que as garotas, o
que já havia sido observado em
outros estudos.
Segundo Avi Sadeh, professor de psicologia da Universidade de Tel Aviv e autor do estudo, o atraso na hora de dormir pode causar privação de sono, pois, como em geral as
crianças precisam acordar no
outro dia cedo para ir à escola,
acabam dormindo menos.
"Isso pode gerar impacto negativo nas habilidades cognitivas e de aprendizado, nas notas
escolares e na modulação do
humor e das emoções. Os pais
devem manter um horário de
dormir razoável para prevenir
a privação de sono", aconselha.
Benito Lourenço, hebiatra da
USP e da Santa Casa de São
Paulo e vice-presidente da Associação Brasileira de Adolescência, lembra que o sono de
qualidade é necessário para as
transformações da puberdade.
"Os hormônios responsáveis
pelo crescimento e pelo desenvolvimento dos testículos e das
mamas são liberados mais no
período noturno e dependem
de uma regularidade de sono."
Internet
Para Lourenço, as principais
razões que levam às mudanças
de sono nessa fase são sociais.
"O adolescente hoje é muito estimulado. Vai a baladas, assiste
à TV ou fica na internet até tarde. Ele passa também a regrar o
próprio sono, não é a mãe que
manda dormir", enumera.
A neuropediatra Márcia Pradella Halliman, coordenadora
do setor de pediatria do Instituto do Sono de São Paulo, diz
que a exposição noturna à luz
dos monitores da TV e do computador dificulta a liberação de
melatonina, o hormônio que
ajuda a dormir. "O relógio biológico da pessoa reconhece o
ambiente como se fosse de dia."
Ela diz, ainda, que fatores
biológicos também parecem
contribuir para as mudanças
no sono -ainda não se sabe por
que, mas provavelmente há relação com hormônios.
Estudos brasileiros mostram
que mesmo adolescentes de tribos indígenas e moradores da
zona rural, que vivem em locais
com menos luz e com um estilo
de vida diferente, têm um atraso no relógio biológico nessa fase -apesar de a magnitude das
mudanças ser menor do que no
caso de jovens urbanos.
Halliman diz que normalmente essas mudanças ocorrem com adolescentes um pouco mais velhos do que os entrevistados pela pesquisa israelense. "Mas pode ser que venham
acontecendo mais cedo atualmente por causa das mudanças
no estilo de vida", avalia.
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