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Transplante de pele é alternativa para pessoas com vitiligo
Técnica usa células saudáveis do próprio doente; estudo mostrou cerca de 60% de repigmentação das manchas
Procedimento já é feito no Brasil, mas só é indicado para casos em que a doença está estabilizada e restrita a pequenas áreas do corpo
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pacientes com vitiligo que
estão com a doença estabilizada e têm manchas pequenas e
localizadas têm uma alternativa segura e eficaz de tratamento: o transplante de células saudáveis de pele para os locais
afetados. A conclusão é de um
estudo apresentado em março
na reunião da "American Academy of Dermatology" (EUA).
Vitiligo é uma doença autoimune, caracterizada pelo surgimento de manchas brancas pelo corpo. Elas são causadas pela
destruição ou inatividade dos
melanócitos -células produtoras de melanina, responsável
pela pigmentação da pele. Atinge com mais frequência as extremidades e o rosto.
Pesquisadores do Hospital
Henry Ford (Detroit) fizeram o
transplante de células da pele
em 32 pacientes. Depois de seis
meses, constataram a repigmentação, que variou de 52% a
74% da cor natural da pele.
Os pacientes negros, com vitiligo em apenas um lado do
corpo, apresentam os melhores
benefícios com a técnica.
O transplante de pele para
pacientes com vitiligo é feito no
Brasil, mas por poucos dermatologistas. Carlos Machado,
coordenador do Centro de Estudos do Vitiligo da Faculdade
de Medicina do ABC, é um dos
principais especialistas na área
e reúne 500 casos de pacientes
transplantados com sucesso.
A média de repigmentação
que ele observou é a mesma da
pesquisa americana -cerca de
60% da área atingida. "O transplante é uma das poucas técnicas que proporcionam índice
de resultado acima de 60%. Nenhum tratamento clínico atinge esse índice de recuperação."
Machado acrescenta, entretanto, que o transplante é um
complemento ao tratamento
clínico e não deve ser usado como método isolado. "Quem faz
o transplante precisa continuar
tomando os medicamentos, para que a doença não volte a se
manifestar", afirmou.
Como é a cirurgia
O procedimento é feito com
anestesia local. Engloba o
transplante de melanócitos e
queratinócitos (responsáveis
pela síntese de queratina, formando 80% da epiderme). "As
células sadias são "plantadas" na
pele branca. Com o tempo, invadem essa pele e se multiplicam, colorindo o local. No fim
do primeiro mês já dá para ver
resultados", diz Machado.
Nem todo paciente com vitiligo pode fazer o transplante.
Alguns critérios básicos como
estar com a doença inativa, não
ter respondido ao tratamento
clínico convencional e ter o vitiligo localizado (restrito a uma
área pequena) precisam ser
respeitados pelos médicos antes de indicar a cirurgia.
Segundo o dermatologista
Celso Lopes, do ambulatório de
vitiligo da Unifesp, todo paciente com vitiligo precisa começar pelo tratamento clínico
padrão. "Isso inclui uso de corticoides, uso de suplementos
que combatem os radicais-livres, fototerapia e aplicação de
laser", enumera.
Fatores que limitam os
transplantes, diz Lopes, são o
diagnóstico tardio e a ausência
de técnicas modernas na rede
pública. "O paciente chega com
manchas por todo o corpo,
quando o transplante não é
mais eficaz. E a fila para fototerapia é de mais de um ano", diz.
Luiz Gonzaga de Castro, dermatologista da Universidade
Federal de Pernambuco, concorda. "O transplante não é o
tratamento de primeira escolha e não deverá se tornar padrão tão cedo", avalia.
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