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Unesp testa nanodrogas após cirurgia de catarata
Método foi aplicado em 135 pacientes e nenhum deles teve efeitos colaterais
Nanopartículas contendo o remédio são colocadas no fundo do olho do paciente após o término da cirurgia e substituem o uso do colírio
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores brasileiros desenvolveram um tratamento
com nanodrogas que poderá
substituir o uso de colírios em
pacientes submetidos a cirurgia de catarata -opacidade parcial ou total do cristalino e principal causa de cegueira reversível do mundo.
O grupo de pesquisadores da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do
Hospital de Olhos de Araraquara avaliou a eficácia da nanoterapia em estudo realizado com
168 pacientes -135 receberam
a aplicação de nanodrogas e 33
foram tratados da maneira tradicional, usando colírios.
Os resultados apontam que
nenhum dos pacientes tratados
com a nanodroga desenvolveu
infecção pós-cirúrgica e que a
inflamação regrediu mais rápido do que entre aqueles que receberam o tratamento convencional. Os resultados serão publicados na revista científica
"Investigative Ophthalmology
& Visual Science".
O trauma cirúrgico sempre
provoca uma inflamação nos
olhos -daí a necessidade do
uso de colírio por pelo menos
30 dias. Além disso, ainda há
risco de o paciente desenvolver
uma infecção na parte interna
do olho (local de difícil acesso
às drogas convencionais).
Nas terapias com nanodrogas, o princípio ativo do medicamento fica envolvido por um
minúsculo polímero (espécie
de cápsula formada por um material biodegradável que envolve o medicamento) e é aplicado
diretamente no local.
A tecnologia foi desenvolvida
pelo farmacêutico Anselmo
Gomes de Oliveira, do Departamento de Fármacos e Medicamentos da Unesp.
Sem prejudicar a visão do paciente, as cápsulas com o medicamento são injetadas dentro
do olho e começam a se degradar e liberar o medicamento
cerca de seis horas depois da
aplicação. "As nanopartículas
eliminam a participação do paciente nessa etapa do tratamento. Os resultados são mais
eficazes e há menos efeitos colaterais, já que a terapia é localizada", diz.
No caso do tratamento convencional, os colírios com antibiótico e anti-inflamatório devem ser aplicados de três a quatro vezes por dia, por isso o sucesso do tratamento depende
exclusivamente do paciente.
"É muito difícil um paciente
seguir à risca um tratamento
prolongado. Muitos não compram os colírios, outros aplicam de maneira descontinuada, outros aplicam incorretamente. Tudo isso prejudica a
evolução clínica da cirurgia",
diz o oftalmologista José Augusto Cardillo, da Unifesp e do
hospital de Araraquara.
Para o oftalmologista Newton Kara José Junior, chefe do
Setor de Catarata do Hospital
das Clínicas de São Paulo, o trabalho dos pesquisadores brasileiros está seguindo uma tendência mundial da oftalmologia moderna, que tem como objetivo desenvolver tratamentos
mais seguros e que tragam mais
conforto para o paciente.
"A ideia de criar uma técnica
que evite que o paciente tenha
que usar colírio depois da cirurgia é muito boa. Existem outras
pesquisas no mundo com o
mesmo objetivo", diz.
Ele ressalta, entretanto, que
é preciso avaliar os possíveis
efeitos colaterais da nanoterapia durante um período mais
longo. "Os colírios podem provocar reações adversas em alguns pacientes. Nesses casos, a
terapia é interrompida. Como
interromper o tratamento depois que as nanodrogas já foram injetadas?"
Kara José diz que os pesquisadores também precisam avaliar se essa medicação pode ser
tóxica para alguma estrutura
dos olhos. "A camada interna
da córnea, por exemplo, é muito sensível. E só o tempo vai dizer se a terapia é tóxica", diz.
Dois anos
Oliveira afirma que os tratamentos com nanodrogas ainda
estão em estudo e, por isso, ainda podem demorar pelo menos
dois anos para que sejam disponibilizados para tratamento
clínico efetivo.
A nanotecnologia é uma das
técnicas mais promissoras para
a criação de drogas menos tóxicas e mais eficazes. A tecnologia está sendo estudada no país
há pelo menos dez anos. Um
dos objetivos dos pesquisadores é tentar diminuir a toxicidade de medicamentos quimioterápicos e antifúngicos.
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