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Um em cada dez homens tem depressão pós-parto
Estudos mostram também que há correspondência entre o distúrbio da mãe e o do pai
Período entre o terceiro e o sexto mês de vida do bebê é o mais crítico para os pais de
primeira viagem; psicóloga
acha que taxa é ainda maior
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A depressão pós-parto masculina é pouco conhecida até
entre os profissionais da área,
mas isso não significa que seja
rara. Do início da primeira gestação da mulher até o bebê
completar um ano, um a cada
dez homens tem a doença.
O dado é de uma revisão de
43 estudos, com 28 mil participantes, que acaba de ser publicada no "Jama", periódico da
Associação Médica Americana.
Outros estudos apontam que,
entre as mulheres, a taxa de depressão é de 15% a 20%.
A metanálise revela também
que o período entre o terceiro e
o sexto mês de vida do bebê é o
mais crítico para os homens.
Nessa fase, 25% deles sofrem
de depressão.
Por outro lado, os três primeiros meses após o nascimento são os menos problemáticos,
quando apenas 7,7% dos pais
desenvolvem depressão.
"Nesses meses, a vida é muito
corrida. O homem só começa a
se dar conta do que está acontecendo depois do terceiro, quarto mês", acredita a psicóloga
Fátima Bortoletti, que atende
casais durante o pré-natal e o
pós-parto no setor de obstetrícia da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
Na opinião dela, a taxa pode
ser ainda mais alta -nos EUA,
por exemplo, chega a 14%.
Vários fatores que coincidem
nesse período podem funcionar como gatilho da depressão
masculina, segundo o psiquiatra Joel Rennó Júnior, coordenador do Pró-Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
"Muitos homens sentem-se
inseguros em relação aos cuidados com o bebê e à disponibilidade de tempo necessária para ter uma participação ativa na
criação do filho. Alguns não
conseguem entender as mudanças da mulher em relação à
sexualidade e à forma como vê
seu corpo na gravidez", afirma.
A situação econômica, frente
às novas necessidades familiares, também os preocupa. Por
fim, sentimentos de rejeição e
exclusão são comuns entre os
pais novatos.
Como resultado, uma parcela
dos homens compete com o bebê pela atenção da mulher, outra ignora o filho e há os que
tentam afastar a mãe dos cuidados com a criança ou que buscam relações extraconjugais.
Correlação
A pesquisa reforça ainda a
existência de correlação entre
depressão masculina e feminina. "A mulher precisa da proteção do pai do bebê. Se ele passa
a maior parte do tempo fora, a
desproteção vem acompanhada do sentimento de abandono,
que desencadeia a depressão
feminina", diz Bortoletti.
Como o trio familiar funciona de modo integrado, o desequilíbrio afeta todos. "A depressão masculina prejudica
automaticamente a mãe, e o bebê é uma esponja emocional. Se
seu parceiro está deprimido,
ela fica insegura, irritada e passa isso para a criança, que pode
ter problemas de aleitamento e
dar mais trabalho", completa.
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