São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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HISTÓRIA

Diabética e escritora aos 14

A garota inglesa Fibi Ward soube que tem diabetes do tipo 1 aos 13 anos de idade; um ano e meio depois, acaba de lançar um livro em que divide com outros jovens seus medos

Divulgação
Fibi Ward, 14, que escreveu um livro voltado a adolescentes sobre sua vivência como diabética

RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A vida que a inglesa Fibi Ward, 14, leva é semelhante à de inúmeros adolescentes de classe média brasileira: de segunda a sexta, vai à escola e faz os deveres de casa. Nos fins de semana, gosta de fazer compras, ir ao cinema, ler e bater papo com os amigos.
A diferença é que, por causa do diabetes tipo 1, a garota toma quatro injeções de insulina diariamente, calcula a quantia de carboidratos que ingere e testa os níveis de glicose no sangue antes de cada refeição, quando vai dormir ou praticar alguma atividade física.
Diagnosticada com a doença em janeiro de 2008, Fibi passou na sequência por períodos de choque, medo, confusão e vergonha, no qual tentou esconder da maioria dos colegas e professores a sua condição.
"Quando fui diagnosticada, fiquei assustada com as injeções, mas acho que o mais difícil foi lidar com o fato de que eu dependia delas -preciso da minha insulina para me manter viva. Eu não queria que outras pessoas descobrissem porque pensava que elas me olhariam de forma diferente", disse à Folha, em entrevista por e-mail.
Depois de vasculhar sem sucesso sites, livrarias e bibliotecas atrás de informações que pudessem ajudá-la a lidar com o peso emocional de ter que conviver com a doença até o fim da vida, Fibi resolveu escrever seu próprio livro. "No Added Sugar" foi publicado em junho na Inglaterra (e pode ser adquirido no site Amazon.com) e não tem previsão de lançamento no Brasil.
"O que eu queria mesmo era ler algo escrito por alguém da minha idade, que soubesse e entendesse o que eu estava passando", explicou na introdução da obra.
Ao longo do livro, Fibi narra como se sentiu nas primeiras horas após o diagnóstico, as dúvidas que teve sobre como seria sua rotina dali em diante ("Eu continuarei podendo frequentar uma escola normal? Ninguém precisa saber, precisa? Serei vítima de intimidação?"), a sede insaciável como seu único sintoma, a expectativa da volta às aulas e o momento de aplicar sua primeira injeção de insulina, entre outros assuntos. Ao fim de cada capítulo, dá dicas aos adolescentes que, como ela, têm a doença.

Tipo 1
O diabetes tipo 1 tem origem genética e pode ser despertado por vírus, estresse ou outros fatores, o que causa a morte das células do pâncreas que produzem insulina. Esse hormônio é essencial para que o organismo possa aproveitar a energia dos alimentos e, por isso, pessoas com esse tipo de diabetes precisam tomar injeções diárias.
Estima-se que cerca de um milhão de brasileiros sejam portadores de diabetes tipo 1, o equivalente a 10% dos casos da doença. O tipo 2, relacionado ao estilo de vida, atinge principalmente adultos e responde pelos outros 90% dos casos.
Apesar de já ter ouvido falar sobre a doença antes de receber o diagnóstico, Fibi sabia muito pouco a respeito. "Acho que eu pensava que era algo relacionado ao açúcar, mas não entendia exatamente o que era, o que causava e qual o tratamento."
Na opinião da garota, muitas pessoas são ignorantes sobre a doença, assim como ela já foi em um passado não muito distante. "Muitas pensam que diabéticos não podem consumir nenhum tipo de açúcar, mas eu posso comer doces e chocolate -o momento de fazer isso é que é importante. Como essas coisas com as refeições porque assim elas não afetam os níveis de glicose no sangue", explica.
Apesar de dizer que o diabetes mudou sua vida, Fibi afirma que a condição não a impediu de fazer nada. "Eu ainda saio com meus amigos, frequento a escola e levo a mesma vida de antes, mas agora tenho que me planejar um pouco mais, além, é claro, de aplicar minhas injeções de insulina e de conferir minha taxa de glicose."
Para isso, toda vez que sai de casa ela carrega um monitor de glicemia, fundamental para saber se as taxas de glicose precisam ser normalizadas. Para tomar a dose correta de insulina nas refeições, precisa fazer a contagem de carboidratos para balancear com o total de hormônio que deve aplicar.
Leva também comprimidos e gel de glicose, além de algumas guloseimas, para o caso de ter que reverter uma hipoglicemia. "O gel serve para uma situação mais extrema, em que a pessoa já não consegue engolir", afirma Augusto Pimazoni Netto, coordenador do Grupo de Educação e Controle do Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Hospital do Rim e Hipertensão da Universidade Federal de São Paulo.
Segundo ele, o tratamento é semelhante ao seguido por pacientes no Brasil -o que pode mudar é o tipo de insulina. Há as insulinas humanas NPH, de duração intermediária, e as regulares, de curta duração, além de drogas análogas à insulina.


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