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Nasa cria aparelho que vê pré-catarata
Segundo pesquisadores, a máquina identifica a doença em estágio inicial e pode levar a evolução do tratamento atual
Catarata é a primeira causa de cegueira no mundo e não há diagnóstico precoce; no Brasil, são registrados
120 mil novos casos ao ano
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores da Nasa e do
Instituto Nacional de Olhos
dos Estados Unidos desenvolveram um aparelho capaz de
diagnosticar casos de pré-catarata, antes que o problema se
desenvolva. A catarata é a primeira causa de cegueira no
mundo e atualmente não existem exames clínicos que façam
o diagnóstico precocemente.
Trata-se de um equipamento
não-invasivo que avalia com laser a concentração da proteína
alfacristalina no tecido do cristalino (lente dos olhos que fica
opaca com a catarata). Essa
proteína está diminuída em pacientes com catarata.
O cristalino fica entre a córnea e a retina e é composto por
várias proteínas. Os pesquisadores desenvolveram uma fonte luminosa capaz de quantificar o brilho de cada uma. Para
isso, avaliaram os olhos de 380
pacientes entre 7 e 86 anos e
constataram que, quanto mais
opaca a visão, menor a quantidade da proteína alfacristalina.
"Cada proteína tem um brilho diferente. Eles [pesquisadores] conseguiram medir a
concentração da alfacristalina
no tecido pela intensidade do
brilho. É um avanço muito importante porque hoje, clinicamente, você não consegue fazer
esse tipo de diagnóstico [detectar a pré-catarata antes que o
cristalino fique opaco]", afirmou o oftalmologista Newton
Kara José Júnior, chefe do grupo de catarata do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Segundo os pesquisadores,
inicialmente, a técnica vai ajudar os cientistas a observar as
alterações visuais decorrentes
de envelhecimento, tabagismo
e diabetes. Além disso, eles
continuarão utilizando o dispositivo durante três anos para
analisar o impacto das viagens
espaciais sobre o sistema visual
(para saber se a exposição à radiação espacial também pode
causar catarata). A tecnologia
poderá, ainda, ajudar a compreender o mecanismo de formação da catarata.
Para o oftalmologista Rubens Belfort Júnior, professor e
presidente do Instituto da Visão da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo), o aparelho pode ser o primeiro passo
para a busca de medicamentos
para prevenir a catarata.
"Esse aparelho vai nos ajudar
a entender o mecanismo da formação da catarata e poderá servir de base para o desenvolvimento de medicamentos que
evitem a doença", avaliou Belfort, que acredita que o aparelho deve ser colocado em uso
nos principais centros oftalmológicos do mundo, incluindo os
brasileiros, em dois anos.
Uso limitado
Atualmente, não existe nenhum medicamento que consiga parar o desenvolvimento da
catarata -o tratamento é necessariamente cirúrgico.
Para os pesquisadores que
desenvolveram o novo aparelho, a vantagem de fazer um
diagnóstico da queda da proteína antes de a catarata aparecer
é estimular as pessoas a reduzirem o risco de desenvolver a
doença mudando hábitos de vida, como diminuir a exposição
ao sol, parar de fumar e controlar os índices de diabetes.
Kara José Júnior acredita
que o uso do aparelho é limitado, pelo menos por enquanto,
mas diz que ele pode abrir caminhos para algo mais vantajoso. "Como agora a gente conseguirá quantificar essa proteína,
poderemos pensar em criar um
colírio para aumentar a sua
concentração, por exemplo."
Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia apontam
que são diagnosticados cerca de
120 mil novos casos por ano de
catarata. Segundo o Ministério
da Saúde, em 2008 foram realizadas 70.088 cirurgias pelo
SUS (Sistema Único de Saúde).
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