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Circuncisão não protege homossexuais, diz estudo
Em pesquisa com quase 5.000 homens, não houve redução no contágio de HIV
Trabalho é um dos maiores feitos fora da África e em grupo não heterossexual;
sexo receptivo pode diluir efeito preventivo da cirurgia
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora estudos feitos na
África tenham mostrado que a
circuncisão pode diminuir a
transmissão do vírus HIV entre
heterossexuais, uma pesquisa
feita pelos CDCs (Centros de
Controle e Prevenção de Doenças), dos EUA, sugere que o
procedimento pode ser pouco
eficaz na prevenção da infecção
entre homens que têm relações
sexuais com outros homens.
Os pesquisadores dos CDCs
analisaram dados de 4.900 homens que viviam nos EUA, Canadá e Holanda em 1998, quando participaram de um teste
para uma vacina anti-HIV. Em
três anos, 7% deles tornaram-se soropositivos.
Após ajustes para descartar a
influência de fatores como uso
de drogas injetáveis e sexo sem
proteção, o resultado mostra
que a circuncisão não alterou a
probabilidade de transmissão
do vírus HIV.
A conclusão, publicada pelo
periódico "Aids", aparece no
momento em que os CDCs estão debatendo as recomendações sobre circuncisão para reduzir a transmissão do HIV. A
agência está decidindo se recomenda a circuncisão para heterossexuais com alto risco de
contrair o vírus e se há evidência suficiente para fazer alguma
indicação também para homossexuais e bissexuais.
Acredita-se que a circuncisão
proteja os homens do HIV porque o tecido do prepúcio (prega
que recobre a glande) parece
particularmente suscetível ao
vírus e pode servir de porta de
entrada no organismo para ele,
entre outras razões.
Mas isso pode não fazer muita diferença nas taxas de transmissão entre homens homossexuais e bissexuais porque não
afeta o risco de contaminação
no sexo anal receptivo. Outra
hipótese é o fato de soropositivos de países desenvolvidos se
tratarem com drogas potentes
que reduzem o risco de contágio, o que pode se sobrepor aos
efeitos da circuncisão.
Segundo Naila Santos, assistente da divisão de prevenção
do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde, há
muitas críticas à recomendação geral da circuncisão para
prevenir a Aids. "Ela também
não protege as mulheres em
uma relação com parceiro soropositivo", diz.
Para o infectologista Esper
Kallás, da USP, trata-se de um
estudo importante. "Demonstra algo que já se suspeitava e
abre a discussão sobre aspectos
da transmissão do HIV", afirma. Para ele, é um indício de
que a circuncisão não tem o
mesmo efeito protetor contra o
HIV do que em relações heterossexuais, mas não é a resposta definitiva, porque o trabalho
tem limitações: é retrospectivo
e contou com muito mais participantes circuncidados (86%).
"Precisa haver um estudo
com mais gente, distribuição
mais equânime entre circuncidados e não circuncidados e
que seja prospectivo", afirma.
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