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PAULO HOFF ONCOLOGISTA
Burocracia atrasa acesso de doentes a novas drogas
Especialista em câncer critica a demora na aprovação de pesquisas de remédios feitas com pacientes, que perdem chances de tentar tratamento
Carlos Cecconello/Folhapress
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O médico Paulo Hoff, no Instituto do Câncer do Estado de SP
JULLIANE SILVEIRA
DE SÃO PAULO
No Brasil, leva-se de seis
meses a um ano para que o
protocolo de estudo da ação
de novas drogas em pacientes seja aprovado.
Para o oncologista Paulo
Hoff, a demora é grande demais e tem dificultado esses
trabalhos, conhecidos como
pesquisas clínicas. Nos EUA,
o prazo de aprovação vai de
três a seis meses.
"Buscamos um tempo de
quatro meses. Não estamos
pedindo muito."
Leia os principais trechos
da entrevista.
Folha - Em que implica a demora para a aprovação?
Paulo Hoff - Em um estudo
que inclui EUA, Austrália,
Canadá e Brasil, por exemplo, o Brasil é o último país a
aprová-lo. Isso dá uma menor oportunidade para que
possamos incluir nossos pacientes. China e Brasil são os
países que mais demoram.
O Brasil é conhecido por isso?
Sim, e algumas empresas
farmacêuticas estão deixando de oferecer participação a
cientistas brasileiros em estudos. O trâmite é longo, há
desgaste físico e emocional.
O que isso significa, do ponto
de vista dos pacientes?
Infelizmente, 40% dos pacientes com câncer ainda
morrem da doença porque
não existe uma medicação
adequada. Novas drogas que
irão ajudar os pacientes a viver mais ou se curar virão de
pesquisas clínicas. É realmente desejável que o tempo
de trâmite seja reduzido.
Qual é o papel do governo
brasileiro nessa história?
Há uma boa vontade do
governo brasileiro de ajudar
no desenvolvimento de novas drogas. Criar um remédio
do nada custa de US$ 800
milhões a US$ 1 bilhão. É
muito difícil um governo fazer isso. Ao menos num futuro próximo, a participação da
indústria vai ser importante.
Em que ponto as pesquisas
emperram no país?
Há três fases de pesquisa.
Na fase 1, são estudadas drogas nunca usadas em humanos. São a "Fórmula 1" da pesquisa. Esses estudos incluem
pouquíssimos pacientes e
demoram pouco tempo.
A fase 2 inclui cerca de 40
pacientes, drogas novas,
mas conhecidas. A fase 3 são
grandes estudos com milhares de pacientes para confirmar se funciona. Acabamos
escolhidos para a fase 3, porque não importa tanto o tempo de demora.
O problema é que os cientistas brasileiros teriam mais
benefícios se pudessem receber estudos de fase 1 e 2.
O Brasil é um bom local para
pesquisas clínicas?
Somos atraentes porque
somos miscigenados. Também temos meio milhão de
casos de câncer por ano e um
corpo de investigadores de
muito bom nível. Se trabalharmos o aspecto regulatório, seremos um dos líderes.
Qual é o argumento para a
atual burocracia?
Existe uma preocupação
do governo de manter a ética
e de que o Brasil não seja usado como cobaia no mau sentido. Há receio da influência
da indústria farmacêutica no
processo. E não sou contra
nada disso. Só acho que temos de achar uma maneira
de agilizar o processo.
Como está a discussão com o
Ministério da Saúde?
Foi levantada a ideia de
criar mecanismos de aprovação mais rápidos para estudos com pacientes que corram risco de morte, mas ainda não é oficial.
Como o "fast track", que
ocorre nos EUA, uma autorização mais rápida para alguns perfis de pacientes?
Sim. Para mim, essa seria
não a solução final, mas ajudaria imensamente. Também é preciso aceitar que os
comitês regionais de ética,
que atuam nas instituições,
estão fazendo um bom trabalho. Assim, podemos descentralizar a avaliação de Brasília e agilizar o processo.
A discussão é de todas as
áreas da medicina?
Sim. Uso o câncer porque é
dramático, os pacientes morrem. Mas a nossa comunidade científica é muito forte.
Não somos mais um país em
que a indústria vai trazer estudo e trocar por miçanga.
Os brasileiros participam
da discussão, dos desenhos
dos protocolos. Temos até a
posição de destaque em algumas áreas. A oncologia
brasileira é a mais forte da
América Latina.
Essa força é subutilizada?
Temos potencialidade para usar muito mais. Para ser
justo, preciso dizer que o esforço do governo é sempre
em prol do paciente. Mas estamos errando na dosagem.
Pacientes querem participar?
Muitos pacientes já chegam perguntando por pesquisas. Eles trazem folhas
impressas da internet e dizem "olha, tem a droga X, parece que é muito boa. Vocês
estão estudando esse remédio aqui?"
É comum pacientes buscarem projetos no exterior?
Não é raro. Até nosso vice-presidente foi buscar uma alternativa nos EUA, não foi?
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