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Exame detecta endometriose sem cirurgia
Método criado por pesquisadores australianos e belgas foi testado em 99 mulheres; outros estudos são necessários
Novo procedimento colhe fragmentos do endométrio no exame ginecológico, sem anestesia, e depois analisa a presença de fibras nervosas
FERNANDA BASSETTE
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores australianos e
belgas desenvolveram um novo
procedimento para diagnosticar endometriose precocemente e de maneira menos invasiva,
sem a necessidade de laparoscopia. Para isso, fizeram um estudo randomizado e duplo-cego com 99 mulheres. Os resultados foram publicados anteontem na revista científica
"Human Reproduction".
Hoje a cirurgia é considerada
a única maneira efetiva de diagnosticar precocemente a doença. A outra opção -o ultrassom- identifica apenas os casos mais avançados. Estima-se
que de 30% a 40% das operações não confirmem o diagnóstico, o que mostra que as mulheres estão se submetendo ao
procedimento desnecessariamente. Por isso, médicos do
mundo todo tentam encontrar
uma forma menos invasiva de
fazer o diagnóstico.
A nova técnica foi apresentada no congresso internacional
de endometriose, na Austrália.
Consiste em colher pequenos
fragmentos do endométrio (tecido que reveste o útero) durante um exame ginecológico
convencional, no consultório,
sem a necessidade de anestesia
(apenas tomando um analgésico oral). Em seguida, analisa-se
o material à procura de fibras
nervosas no tecido.
Segundo o professor Moamar Al-Jefout, um dos autores
do estudo, é possível fazer o
diagnóstico com precisão em
praticamente 100% dos casos.
Segundo ele, as 64 mulheres
que tiveram a doença confirmada pela cirurgia também tiveram o teste positivo para a
presença das fibras nervosas.
Além disso, 29 das 35 mulheres que não confirmaram a
doença pela cirurgia também
não tinham fibras nervosas no
tecido. "A presença das fibras
nervosas pode estar envolvida
no aparecimento da dor. A gente acredita que elas possam estar envolvidas no fenômeno",
afirmou Al-Jefout à Folha.
O ginecologista Carlos Alberto Petta, professor da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas), afirma que o estudo abre novas perspectivas para que seja possível diagnosticar precocemente a doença.
"É muito frequente fazermos
cirurgias e descobrirmos que a
mulher não tinha endometriose. A vantagem dessa nova técnica é que, se comprovada sua
eficácia, ela acaba com as cirurgias desnecessárias. A gente
conseguiria triar melhor as pacientes", afirma Petta.
Para o ginecologista Maurício Abrão, responsável pelo Setor de Endometriose da Clínica
Ginecológica do Hospital das
Clínicas de São Paulo, o procedimento é uma tentativa interessante para o diagnóstico de
uma doença que requer um
exame invasivo. Ele considera,
no entanto, a amostra pequena
para que seja possível tornar o
método uma rotina. "Quando
se fala de endometriose no Brasil, fala-se de mais de 6 milhões
de mulheres. Será que cem casos refletem essa quantidade?".
Para a ginecologista Ivete de
Ávila, presidente da Comissão
de Endometriose da Febrasgo
(Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia), o trabalho é inovador, mas tem outro fator que
precisa ser levado em conta.
"É um procedimento simples, mas com custo alto. Não
adianta termos um método de
coleta simples, mas com uma
análise laboratorial que exige
um microscópio ultramoderno
e reagentes caríssimos", diz.
Ultrassom
A ultrassonografia especializada tem se mostrado uma alternativa menos invasiva para
apontar focos de crescimento
de tecido fora do endométrio.
De acordo com Abrão, o médico ultrassonografista treinado para identificar a endometriose é capaz de detectar o problema no ovário e a forma mais
profunda da doença (que infiltra bexiga, ligamentos, intestino, entre outros órgãos).
O ultrassom também auxilia
o médico a prever o que encontrará na cirurgia. "A vantagem é
ir para o procedimento [laparoscopia] com uma informação
prévia", defende Abrão.
Segundo Petta, no entanto, a
desvantagem do ultrassom é
que, normalmente, só se consegue visualizar casos avançados.
E, quando a endometriose é
diagnosticada tardiamente, é
mais difícil de tratar, ocorre
maior dificuldade para engravidar e há risco de ser necessária
a retirada do útero.
Doença frequente
A endometriose é uma doença ginecológica crônica, em que
parte do endométrio se estabelece fora do útero, provocando
cólicas intensas, dor durante a
relação sexual e infertilidade. A
doença atinge entre 10% e 15%
das mulheres em idade fértil.
O tratamento da endometriose é cirúrgico (para retirada
dos nódulos e cistos). Não há
cura, apenas controle clínico,
com medicamentos para diminuir a dor. A doença pode voltar
a se manifestar.
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