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Antidepressivo ajuda a recuperar lesão de medula
Associado a exercício, remédio mostrou eficácia em estudo apresentado nos EUA
É a primeira vez que uma
pesquisa realizada com
seres humanos mostra
benefícios na recuperação
motora dos pacientes
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um antidepressivo comum
associado a um programa intensivo de treinamento em esteira pode ajudar pessoas com
lesões parciais da medula espinhal a andar mais rapidamente
e com mais desenvoltura, revela uma pesquisa inédita apresentada anteontem em congresso de neurociência que
acontece em Chicago (EUA).
Os antidepressivos são usados para tratar dor crônica de
lesionados na medula, mas é a
primeira vez que um estudo
com humanos mostra benefícios na recuperação motora.
Segundo os autores, o uso de
um antidepressivo inibidor da
recaptação de serotonina ajudou a fortalecer as conexões
nervosas remanescentes da coluna, dando aos pacientes mais
capacidade de controlar os
músculos das pernas.
"A droga por si só não é milagrosa. Você precisa é da droga
mais o treinamento", explica o
médico George Hornby, professor do Instituto de Reabilitação de Chicago e um dos autores do estudo.
Segundo Hornby, foram testados os efeitos do antidepressivo em 50 pessoas que tinham
capacidade parcial para mover-se, um ano após terem sofrido
uma lesão da medula espinhal.
Durante oito semanas, os pacientes participaram de um
treinamento em uma esteira
motorizada, assistido por um
robô ou por um fisioterapeuta.
Eles tiveram o apoio de um suporte para não cair.
Cinco horas antes do treino,
metade do grupo recebeu 10 mg
de antidepressivo e a outra metade, placebo. Ambos os grupos
melhoraram, mas aqueles que
tomaram o remédio foram capazes de andar muito mais rápido, de acordo com Hornby.
Ele diz que a droga aumentou
os espasmos musculares nos
pacientes e que esses reflexos
podem ser treinados. "Os pacientes que têm uma lesão da
medula espinhal podem invocar esses reflexos para andar."
Os voluntários só tomaram o
antidepressivo no dia do treinamento, mas os benefícios
permaneceram mesmo depois
que os efeitos da droga haviam
passado, afirma o pesquisador.
Qualidade de vida
Segundo o médico Tarcisio
Eloy Pessoa de Barros Filho, titular de ortopedia da USP e especialista em lesão medular, os
resultados da pesquisa são
"muito positivos", mas são necessários estudos maiores para
que o tratamento seja incluído
na prática clínica. "Está bem
longe da cura, mas pode melhorar a qualidade de vida desses
pacientes", diz ele.
Barros Filho explica que as
pesquisas em animais já haviam demonstrado que o antidepressivo pode melhorar o
tratamento de lesionados da
medula porque facilitam a
transmissão dos impulsos nervosos na coluna. "É uma peça a
mais nesse gigantesco quebra-cabeça [que é a medula]."
De acordo com o neurologista Jaderson da Costa, coordenador do projeto e diretor do
Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUC-RS, o antidepressivo age aumentando a disponibilidade de serotonina em pacientes que ainda têm um substrato neural na medula (lesão
parcial) e isso pode ajudar na
recuperação motora.
Ele lembra que esse tipo de
droga também pode melhorar a
disponibilidade afetiva, o que
faz com que os pacientes se engajem em um programa de treinamento com mais facilidade.
"O cérebro ajuda o cérebro."
O médico Cícero Vaz, fisiatra
do Hospital Israelita Albert
Einstein, avalia que mais estudos serão necessários para
comprovar se o benefício apontado pelo estudo é neurofisiológico (pela ação da serotonina
nos impulsos nervosos) ou
emocional. "Esse tipo de paciente tende à depressão. Será
que, ao melhorar, não há mais
aderência ao tratamento?"
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