São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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Bactéria que causa gastrite é mais comum em criança de baixa renda

Grupo avaliado tinha entre 0 e 6 anos e foi dividido de acordo com a classe social

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A bactéria Helicobacter pylori, principal agente causadora de gastrite, é mais comum em crianças de baixa renda, indica estudo feito pela Faculdade de Ciências Médicas e pelo Gastrocentro da Universidade Estadual de Campinas.
Foram avaliadas 218 crianças com até seis anos, de Campinas (SP) e de Teresina (PI), que foram divididas em três grupos, de acordo com a renda familiar. Os resultados apontaram que a prevalência da bactéria em crianças provenientes de famílias de baixa renda (com renda familiar de R$ 400, em média) é de 47,8%, contra 13,5% para as crianças de famílias de classe média (R$ 1.000) e 3,2% de classe alta (R$ 7.000).
Segundo o gastroenterologista José Murilo Robilotta Zeitune, responsável pelo estudo, a pesquisa foi feita em crianças para tentar descobrir qual é a epidemiologia da bactéria e, assim, estabelecer programas de prevenção.
O médico não avaliou clinicamente se as crianças tinham ou não desenvolvido gastrite. Todas eram saudáveis e não possuíam nenhum sintoma.
A presença da bactéria foi detectada pela pesquisa do antígeno fecal (HpSA), que substitui a endoscopia e o método respiratório (já que as crianças têm dificuldades para usá-lo).

Contaminação precoce
Outra constatação do estudo é que 16,7% das crianças de baixa renda são infectadas nos primeiros meses de vida; 20% das crianças de renda média são infectadas a partir do primeiro ano de vida; enquanto 18,1% das crianças de classe alta são infectadas somente a partir do terceiro ano de vida.
"Embora ainda não seja bem conhecido qual o mecanismo de transmissão da bactéria, os resultados mostram que existe uma forte relação entre o índice de prevalência e as condições de saneamento básico a que as crianças estão expostas", afirmou Zeitune.
A imunologista Rejane Mattar, responsável pelo laboratório de provas funcionais do aparelho digestivo do Hospital das Clínicas de São Paulo, disse que o estudo ajuda a entender a relação da infecção da bactéria com os problemas de saneamento básico das cidades e, por isso, pode ajudar na elaboração de políticas públicas.
"A gente não sabe como a bactéria é adquirida, mas sabe que as crianças não têm muita noção de higiene. Se a chupeta cai no chão, por exemplo, elas colocam de volta na boca. É bem provável que a contaminação aconteça via oral", avalia.
Ainda de acordo com Mattar, as crianças de classe média e alta possuem hábitos de higiene melhores e alimentação mais balanceada, o que justificaria o menor número de infecções.
"O estudo é importante para entender o ciclo da infecção pelo H.pylori. Ele mostra que é importante que as cidades invistam em saneamento básico, já que a infecção pode evoluir para úlcera em 10% a 15% dos casos e para câncer, em cerca de 1% dos casos", disse Mattar.


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