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Bactéria que causa gastrite é mais comum em criança de baixa renda
Grupo avaliado tinha entre 0 e 6 anos e foi dividido de acordo com a classe social
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A bactéria Helicobacter pylori, principal agente causadora
de gastrite, é mais comum em
crianças de baixa renda, indica
estudo feito pela Faculdade de
Ciências Médicas e pelo Gastrocentro da Universidade Estadual de Campinas.
Foram avaliadas 218 crianças
com até seis anos, de Campinas
(SP) e de Teresina (PI), que foram divididas em três grupos,
de acordo com a renda familiar.
Os resultados apontaram que a
prevalência da bactéria em
crianças provenientes de famílias de baixa renda (com renda
familiar de R$ 400, em média) é
de 47,8%, contra 13,5% para as
crianças de famílias de classe
média (R$ 1.000) e 3,2% de
classe alta (R$ 7.000).
Segundo o gastroenterologista José Murilo Robilotta
Zeitune, responsável pelo estudo, a pesquisa foi feita em
crianças para tentar descobrir
qual é a epidemiologia da bactéria e, assim, estabelecer programas de prevenção.
O médico não avaliou clinicamente se as crianças tinham ou
não desenvolvido gastrite. Todas eram saudáveis e não possuíam nenhum sintoma.
A presença da bactéria foi detectada pela pesquisa do antígeno fecal (HpSA), que substitui a endoscopia e o método
respiratório (já que as crianças
têm dificuldades para usá-lo).
Contaminação precoce
Outra constatação do estudo
é que 16,7% das crianças de baixa renda são infectadas nos primeiros meses de vida; 20% das
crianças de renda média são infectadas a partir do primeiro
ano de vida; enquanto 18,1%
das crianças de classe alta são
infectadas somente a partir do
terceiro ano de vida.
"Embora ainda não seja bem
conhecido qual o mecanismo
de transmissão da bactéria, os
resultados mostram que existe
uma forte relação entre o índice de prevalência e as condições de saneamento básico a
que as crianças estão expostas",
afirmou Zeitune.
A imunologista Rejane Mattar, responsável pelo laboratório de provas funcionais do
aparelho digestivo do Hospital
das Clínicas de São Paulo, disse
que o estudo ajuda a entender a
relação da infecção da bactéria
com os problemas de saneamento básico das cidades e, por
isso, pode ajudar na elaboração
de políticas públicas.
"A gente não sabe como a
bactéria é adquirida, mas sabe
que as crianças não têm muita
noção de higiene. Se a chupeta
cai no chão, por exemplo, elas
colocam de volta na boca. É
bem provável que a contaminação aconteça via oral", avalia.
Ainda de acordo com Mattar,
as crianças de classe média e alta possuem hábitos de higiene
melhores e alimentação mais
balanceada, o que justificaria o
menor número de infecções.
"O estudo é importante para
entender o ciclo da infecção pelo H.pylori. Ele mostra que é
importante que as cidades invistam em saneamento básico,
já que a infecção pode evoluir
para úlcera em 10% a 15% dos
casos e para câncer, em cerca
de 1% dos casos", disse Mattar.
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