São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2010

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Em SP, cresce internação de bebê por doença respiratória

Hospitalizações por bronquiolite aumentaram 70% no Estado em dez anos

A infecção é mais comum no período de abril a agosto; entrada precoce na escola e exposição à fumaça são algumas causas possíveis


GABRIELA CUPANI
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de hospitalizações por bronquiolite cresceu 70% em São Paulo em dez anos. Trata-se de infecção respiratória, que pode ser mais grave entre bebês com menos de dois anos. Segundo levantamento feito pelo Hospital Universitário da USP, no mesmo período o aumento das internações no Brasil foi de cerca de 40%. O estudo utilizou dados do Datasus de 1998 a 2007.
O agravamento da infecção vem sendo observado no cenário mundial. Nos EUA, os índices de internação dobraram em duas décadas. No Reino Unido, triplicaram em 25 anos.
"Não é o vírus que está mais agressivo. O quadro de infecção é que está mais grave", diz Sandra Vieira, uma das autoras da pesquisa, professora do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da USP.
Os especialistas apontam o estilo de vida, com maior exposição ao cigarro e à poluição, e o aprimoramento do diagnóstico como possíveis fatores para o aumento do número de internações. Outro motivo seria a maior sobrevida de prematuros e de crianças com doenças crônicas. "Nenhum deles explica sozinho esse crescimento", diz. Segundo Vieira, estudos internacionais já mediram o impacto de cada um desses fatores e, isolados, eles só explicam uma parte do fenômeno. "Além disso, trata-se de uma tendência contínua", afirma.
A pneumologista pediátrica Marina Buarque de Almeida, diretora da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, concorda. "É uma doença multifatorial. Se a criança foi gerada por uma mãe fumante, ela nasce com as vias aéreas mais estreitas. Uma inflamação como a bronquiolite causa dano maior porque os "caninhos" que levam o ar ao pulmão já são mais estreitos", diz.

Principal causa
A pneumologista também aponta a poluição e a exposição ao vírus nas escolas, que as crianças frequentam cada vez mais cedo, como outros fatores. "Quanto menor a criança, mais grave a bronquiolite."
O principal agente causador da bronquiolite, doença que mais provoca internações de bebês com menos de um ano, é o VSR (vírus sincicial respiratório). Prematuros e crianças com doenças crônicas, como cardiopatias, apresentam quadros mais graves. Acima dos dois anos, a doença costuma se manifestar como um resfriado.
"As infecções por VSR ocorrem com maior frequência no outono e no inverno. Hoje, há sete ou oito crianças hospitalizadas por dia no Hospital Universitário e isso deve aumentar nas próximas semanas, porque o pico da estação ocorre em maio e junho", diz Vieira.
No caso dos bebês pequenos, pode ser difícil para a mãe identificar os sintomas. "Se ela nota dificuldades na mamada e o bebê para várias vezes para respirar, pode ser indicativo da doença", ensina Almeida.
Quando a doença atinge bebês de dois ou três meses, ainda que a criança seja saudável, a infecção pode ser grave ou até mesmo fatal. "Tenho visto mais sequelas e em crianças muito novas", diz Almeida.
O mais comum são sequelas transitórias, como chiado, mas alguns estudos mostram que, dependendo da predisposição da criança, pode haver maior risco de asma tanto na adolescência quanto na vida adulta.
Ainda não há vacina contra o VSR. Crianças de maior risco, como as prematuras nascidas antes da 28ª semana, podem fazer um tratamento com anticorpo monoclonal, um medicamento que inibe o vírus, fornecido pelo SUS.


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