São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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Exercício pode viciar amador e profissional

Estudo analisou esportistas de diversas modalidades, como futebol, natação, vôlei, atletismo, judô e ginástica olímpica

Pesquisa da Unifesp avaliou 200 atletas profissionais e 200 amadores; todos faziam atividades físicas ao menos cinco vezes por semana


FERNANDA BASSETTE
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pesquisa do Cepe (Centro de Estudos em Psicobiologia do Exercício) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) aponta que 28% dos 400 atletas brasileiros avaliados em todo o país são viciados em exercícios físicos.
O estudo ouviu 200 atletas profissionais de elite e 200 praticantes amadores de atividade física -todos com horas de treino semelhantes e uma frequência mínima de atividades de cinco vezes por semana.
Os voluntários responderam a um questionário que abordava tolerância da prática e abstinência na falta de exercícios, o quão importante é a atividade no quadro social do esportista e o quanto o atleta seria capaz de abrir mão da prática esportiva em função de outras atividades.
"Há algumas linhas de pesquisa nessa área, e alguns estudos têm mostrado que atletas com compulsão por exercícios têm sintomas de abstinência semelhantes aos de viciados em outras drogas", afirma o professor de educação física Vladimir Modolo, autor do estudo.
Foram avaliados atletas de diversas modalidades, como futebol, vôlei, atletismo, judô e ginástica olímpica. A maior predominância de dependência foi encontrada entre praticantes de esportes individuais -como corrida, natação, musculação e ginástica olímpica.
"Ainda tentamos avaliar o porquê. A hipótese é que, quando o indivíduo pratica exercício individualmente, há uma cobrança muito maior. No coletivo, a divisão de responsabilidade ameniza o risco", diz.
O vício pode ocorrer por duas vias. A primeira, de origem psicológica, está atrelada a outros distúrbios como anorexia (transtorno alimentar) ou vigorexia (transtorno psiquiátrico do culto ao corpo). Nesse caso, o esportista pode até não sentir prazer ao praticar a atividade física, mas o exercício é a ferramenta para se manter magro ou com o corpo definido.
Outro mecanismo está relacionado às substâncias aumentadas durante o exercício, como as endorfinas e a anadamida, que trazem sensação de euforia, de bem-estar e de analgesia.
"O corpo se acostuma com essas sensações e o organismo sente falta de um dia que a pessoa deixa de fazer o exercício. É um mecanismo de dependência, como acontece com outras drogas", explica o cardiologista José Kawazoe Lazzoli, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.
É difícil identificar o excesso, já que o ritmo de exercícios varia de acordo com o indivíduo e com os objetivos da prática. "Geralmente, um dos primeiros sinais é deixar de cumprir algum compromisso profissional, familiar ou social. A família tem que estar atenta para identificar a situação", diz Lazzoli.
Nesse caso, é indicado procurar um médico para medir níveis hormonais e marcadores das substâncias aumentadas durante o exercício. Se o vício for diagnosticado, o tratamento deve ser multidisciplinar, com acompanhamento psicológico, uso de medicamentos e ajuste no ritmo de exercícios.
Um treinamento adequado, onde são respeitados o descanso e as variações fisiológicas, ajuda a prevenir o problema.


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