|
Próximo Texto | Índice
Exercício pode viciar amador e profissional
Estudo analisou esportistas de diversas modalidades, como futebol, natação, vôlei, atletismo, judô e ginástica olímpica
Pesquisa da Unifesp avaliou
200 atletas profissionais e
200 amadores; todos faziam
atividades físicas ao menos
cinco vezes por semana
FERNANDA BASSETTE
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pesquisa do Cepe (Centro de Estudos em Psicobiologia do Exercício) da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo) aponta que 28% dos 400
atletas brasileiros avaliados em
todo o país são viciados em
exercícios físicos.
O estudo ouviu 200 atletas
profissionais de elite e 200 praticantes amadores de atividade
física -todos com horas de
treino semelhantes e uma frequência mínima de atividades
de cinco vezes por semana.
Os voluntários responderam
a um questionário que abordava tolerância da prática e abstinência na falta de exercícios, o
quão importante é a atividade
no quadro social do esportista e
o quanto o atleta seria capaz de
abrir mão da prática esportiva
em função de outras atividades.
"Há algumas linhas de pesquisa nessa área, e alguns estudos têm mostrado que atletas
com compulsão por exercícios
têm sintomas de abstinência
semelhantes aos de viciados em
outras drogas", afirma o professor de educação física Vladimir
Modolo, autor do estudo.
Foram avaliados atletas de
diversas modalidades, como futebol, vôlei, atletismo, judô e ginástica olímpica. A maior predominância de dependência foi
encontrada entre praticantes
de esportes individuais -como
corrida, natação, musculação e
ginástica olímpica.
"Ainda tentamos avaliar o
porquê. A hipótese é que, quando o indivíduo pratica exercício
individualmente, há uma cobrança muito maior. No coletivo, a divisão de responsabilidade ameniza o risco", diz.
O vício pode ocorrer por duas
vias. A primeira, de origem psicológica, está atrelada a outros
distúrbios como anorexia
(transtorno alimentar) ou vigorexia (transtorno psiquiátrico
do culto ao corpo). Nesse caso,
o esportista pode até não sentir
prazer ao praticar a atividade
física, mas o exercício é a ferramenta para se manter magro
ou com o corpo definido.
Outro mecanismo está relacionado às substâncias aumentadas durante o exercício, como
as endorfinas e a anadamida,
que trazem sensação de euforia, de bem-estar e de analgesia.
"O corpo se acostuma com
essas sensações e o organismo
sente falta de um dia que a pessoa deixa de fazer o exercício. É
um mecanismo de dependência, como acontece com outras
drogas", explica o cardiologista
José Kawazoe Lazzoli, presidente da Sociedade Brasileira
de Medicina do Esporte.
É difícil identificar o excesso,
já que o ritmo de exercícios varia de acordo com o indivíduo e
com os objetivos da prática.
"Geralmente, um dos primeiros sinais é deixar de cumprir
algum compromisso profissional, familiar ou social. A família
tem que estar atenta para identificar a situação", diz Lazzoli.
Nesse caso, é indicado procurar um médico para medir níveis hormonais e marcadores
das substâncias aumentadas
durante o exercício. Se o vício
for diagnosticado, o tratamento deve ser multidisciplinar,
com acompanhamento psicológico, uso de medicamentos e
ajuste no ritmo de exercícios.
Um treinamento adequado,
onde são respeitados o descanso e as variações fisiológicas,
ajuda a prevenir o problema.
Próximo Texto: Nutrição: 78% dos hospitalizados não se alimentam corretamente Índice
|