São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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DEBATE FOLHA


Especialistas pedem cuidado no uso dos telefones por crianças

Pesquisa em andamento no Reino Unido vai medir impacto da radiação no cérebro infantil

Engenheiro Alvaro Salles propõe fabricação de aparelhos sem alto-falantes, para tornar o uso de fones obrigatório

DA EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

O mais perto que especialistas chegaram de um consenso durante o debate foi em relação ao risco do uso do celular por crianças.
Para o biomédico Renato Sabbatini, o conhecimento atual sobre os efeitos das ondas do celular sobre o cérebro infantil é insuficiente.
Ele lembrou que há um grande estudo em andamento no Reino Unido para medir o impacto dos aparelhos em adolescentes, mas os resultados só vão sair em 20 anos. "Antes disso, não vamos ter uma resposta."
Ainda que não haja certeza, Sabbatini acredita que os pais devem orientar melhor seus filhos para um uso responsável do aparelho.
A situação é bem mais crítica na visão de Alvaro Salles. "A espessura do crânio de uma criança é a metade da de um adulto. O cérebro delas tem o conteúdo de um líquido salino, que concentra mais o campo eletromagnético. E muitos dos efeitos de baixo nível [de exposição] ocorrem na multiplicação das células. Nas crianças, as células se multiplicam com maior rapidez."

MUDANÇA DE HÁBITO
Para Salles, as evidências de possíveis danos ao DNA -que poderiam levar a mutações e tumores- já são suficientes para uma mudança radical na maneira como as pessoas usam o aparelho.
O engenheiro defende que os telefones deveriam vir sem alto-falantes, obrigando as pessoas a usar fones de ouvido em vez de colocar o telefone na orelha. Com a maior distância do cérebro, a exposição à radiação seria menor.
"Os fabricantes publicam alertas nos manuais para que os usuários não encostem o celular a distâncias menores que 2,5 cm da cabeça. É quase uma confissão de culpa."
Sabbatini afirma que o alerta não se aplica à cabeça, que é protegida pelo crânio.
Ainda que não haja provas concretas de riscos, o oncologista Paulo Hoff acredita que precaução nunca é demais.
"Sou a favor do uso mais responsável e contido, porque as pessoas estão ficando escravas do celular."
Para o psiquiatra Elko Perissinotti, o uso do celular já é quase sinônimo de dependência. "O ser humano tende ao abuso. Hoje, no Hospital das Clínicas, já temos tratamento para dependentes de internet. Acredito que em um ano teremos tratamento para dependentes de celular."
Hoff acredita que não chegaremos ao ponto de ter que escolher entre a tecnologia e a saúde. "A história mostra que quando a tecnologia era importante e causou problemas, ela foi corrigida. A própria tecnologia acaba gerando sua solução."

FOLHA.com
Veja o debate na íntegra
folha.com/mm832519

Leia entrevista com a pesquisadora americana Devra Davis
folha.com.br/103231


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