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DEBATE FOLHA
Especialistas pedem cuidado no uso dos telefones por crianças
Pesquisa em andamento no Reino Unido vai medir impacto da radiação no cérebro infantil
Engenheiro Alvaro Salles propõe fabricação de aparelhos sem alto-falantes, para tornar o uso de fones obrigatório
DA EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE
O mais perto que especialistas chegaram de um consenso durante o debate foi
em relação ao risco do uso do
celular por crianças.
Para o biomédico Renato
Sabbatini, o conhecimento
atual sobre os efeitos das ondas do celular sobre o cérebro infantil é insuficiente.
Ele lembrou que há um
grande estudo em andamento no Reino Unido para medir
o impacto dos aparelhos em
adolescentes, mas os resultados só vão sair em 20 anos.
"Antes disso, não vamos ter
uma resposta."
Ainda que não haja certeza, Sabbatini acredita que os
pais devem orientar melhor
seus filhos para um uso responsável do aparelho.
A situação é bem mais crítica na visão de Alvaro Salles.
"A espessura do crânio de
uma criança é a metade da de
um adulto. O cérebro delas
tem o conteúdo de um líquido salino, que concentra
mais o campo eletromagnético. E muitos dos efeitos de
baixo nível [de exposição]
ocorrem na multiplicação
das células. Nas crianças, as
células se multiplicam com
maior rapidez."
MUDANÇA DE HÁBITO
Para Salles, as evidências
de possíveis danos ao DNA
-que poderiam levar a mutações e tumores- já são suficientes para uma mudança
radical na maneira como as
pessoas usam o aparelho.
O engenheiro defende que
os telefones deveriam vir sem
alto-falantes, obrigando as
pessoas a usar fones de ouvido em vez de colocar o telefone na orelha. Com a maior
distância do cérebro, a exposição à radiação seria menor.
"Os fabricantes publicam
alertas nos manuais para que
os usuários não encostem o
celular a distâncias menores
que 2,5 cm da cabeça. É quase uma confissão de culpa."
Sabbatini afirma que o
alerta não se aplica à cabeça,
que é protegida pelo crânio.
Ainda que não haja provas
concretas de riscos, o oncologista Paulo Hoff acredita que
precaução nunca é demais.
"Sou a favor do uso mais
responsável e contido, porque as pessoas estão ficando
escravas do celular."
Para o psiquiatra Elko Perissinotti, o uso do celular já é
quase sinônimo de dependência. "O ser humano tende
ao abuso. Hoje, no Hospital
das Clínicas, já temos tratamento para dependentes de
internet. Acredito que em um
ano teremos tratamento para
dependentes de celular."
Hoff acredita que não chegaremos ao ponto de ter que
escolher entre a tecnologia e
a saúde. "A história mostra
que quando a tecnologia era
importante e causou problemas, ela foi corrigida. A própria tecnologia acaba gerando sua solução."
FOLHA.com
Veja o debate na íntegra
folha.com/mm832519
Leia entrevista com a
pesquisadora americana
Devra Davis
folha.com.br/103231
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