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Grupo do FDA amplia uso da estatina
Pacientes com níveis elevados de uma proteína também seriam candidatos à droga que diminui o colesterol
Hoje, o medicamento é recomendado a pacientes que têm evidências de doença cardiovascular e para casos de colesterol alto
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O conselho consultivo da
FDA (órgão que regula fármacos e alimentos nos EUA) aprovou na semana passada a recomendação, com maioria dos votos, do uso da rosuvastatina cálcica (um tipo de estatina) para
pacientes sem histórico de
doença cardiovascular, mas
com níveis elevados de PCR
(proteína-C reativa). A FDA
não é obrigada a seguir a decisão do conselho para autorizar
a utilização do medicamento
para essa finalidade, mas normalmente acata a orientação.
Hoje, as estatinas (remédios
para diminuir o colesterol) são
recomendadas a pacientes que
têm evidências de doença cardiovascular (como histórico de
derrame, infarto e angina) e para quem tem colesterol alto
-valor que varia conforme o
risco cardiovascular total.
A nova indicação seria para
homens com mais de 50 anos e
mulheres com mais de 60, todos com LDL (colesterol
"ruim") abaixo de 130 mg/dL,
triglicérides abaixo de 500
mg/dL e PCR acima de 2 mg/L.
"Essa indicação é revolucionária, porque estão usando como critério a PCR aumentada.
Consideram que a inflamação
detectada indica risco maior de
desfechos cardiovasculares em
uma situação em que não daríamos o remédio, porque os outros fatores estariam em um nível aceitável", diz o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor
do setor lípides do InCor (Instituto do Coração).
O perfil dos pacientes que deveriam receber estatina como
preventivo é baseado nos resultados de um estudo (chamado
Jupiter), divulgado em 2008,
que avaliou 17.802 pessoas durante 22 meses. A AstraZeneca,
fabricante da rosuvastatina, patrocinou o estudo e solicita a
autorização para indicar o remédio a esses pacientes.
"Não temos dúvida de que a
PCR é um marcador de risco
cardiovascular. O risco é 60%
mais alto em quem tem PCR alta [acima de 2 mg/L]. Mas é
preciso discutir algumas coisas:
a população do Jupiter, por
exemplo, tinha vários fatores
de risco -40% tinham síndrome metabólica [ conjunto de
sintomas que elevam o risco
cardíaco]", acrescenta Santos.
Isso quer dizer que os benefícios apontados no estudo podem ser relativizados, mostrando que os melhores efeitos
podem ter ocorrido em pessoas
com maiores chances de sofrer
um evento cardiovascular. Dos
avaliados, 16% eram fumantes
e 12% tinham histórico familiar
de doença coronariana.
"Uma das consequências
imediatas da resolução é que o
exame de PCR passaria a ser solicitado para muita gente. E, de
um dia para o outro, milhões de
pessoas passariam a ter de usar
estatina. Não temos ideia ainda
do custo-efetividade disso, porque não é uma droga barata",
afirma José Rocha Faria Neto,
um dos diretores da Sociedade
Brasileira de Cardiologia.
Segundo Faria Neto, indivíduos de muito baixo risco, mesmo com PCR alto não tiveram
benefícios. "Mesmo que saia a
aprovação, ainda é papel do
médico olhar individualmente
para cada paciente. Se você pegar uma mulher de 60 anos sem
nenhum outro fator de risco
além da PCR, acho que é preciso usar o bom senso", diz.
No estudo Jupiter, 13 pessoas
morreram de problemas gastrointestinais contra uma pessoa do grupo controle. Também houve um aumento estatisticamente significativo de
ocorrência de diabetes entre os
que ingeriram rosuvastatina.
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