São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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Grupo do FDA amplia uso da estatina

Pacientes com níveis elevados de uma proteína também seriam candidatos à droga que diminui o colesterol

Hoje, o medicamento é recomendado a pacientes que têm evidências de doença cardiovascular e para casos de colesterol alto

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O conselho consultivo da FDA (órgão que regula fármacos e alimentos nos EUA) aprovou na semana passada a recomendação, com maioria dos votos, do uso da rosuvastatina cálcica (um tipo de estatina) para pacientes sem histórico de doença cardiovascular, mas com níveis elevados de PCR (proteína-C reativa). A FDA não é obrigada a seguir a decisão do conselho para autorizar a utilização do medicamento para essa finalidade, mas normalmente acata a orientação.
Hoje, as estatinas (remédios para diminuir o colesterol) são recomendadas a pacientes que têm evidências de doença cardiovascular (como histórico de derrame, infarto e angina) e para quem tem colesterol alto -valor que varia conforme o risco cardiovascular total.
A nova indicação seria para homens com mais de 50 anos e mulheres com mais de 60, todos com LDL (colesterol "ruim") abaixo de 130 mg/dL, triglicérides abaixo de 500 mg/dL e PCR acima de 2 mg/L.
"Essa indicação é revolucionária, porque estão usando como critério a PCR aumentada. Consideram que a inflamação detectada indica risco maior de desfechos cardiovasculares em uma situação em que não daríamos o remédio, porque os outros fatores estariam em um nível aceitável", diz o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor do setor lípides do InCor (Instituto do Coração).
O perfil dos pacientes que deveriam receber estatina como preventivo é baseado nos resultados de um estudo (chamado Jupiter), divulgado em 2008, que avaliou 17.802 pessoas durante 22 meses. A AstraZeneca, fabricante da rosuvastatina, patrocinou o estudo e solicita a autorização para indicar o remédio a esses pacientes.
"Não temos dúvida de que a PCR é um marcador de risco cardiovascular. O risco é 60% mais alto em quem tem PCR alta [acima de 2 mg/L]. Mas é preciso discutir algumas coisas: a população do Jupiter, por exemplo, tinha vários fatores de risco -40% tinham síndrome metabólica [ conjunto de sintomas que elevam o risco cardíaco]", acrescenta Santos.
Isso quer dizer que os benefícios apontados no estudo podem ser relativizados, mostrando que os melhores efeitos podem ter ocorrido em pessoas com maiores chances de sofrer um evento cardiovascular. Dos avaliados, 16% eram fumantes e 12% tinham histórico familiar de doença coronariana.
"Uma das consequências imediatas da resolução é que o exame de PCR passaria a ser solicitado para muita gente. E, de um dia para o outro, milhões de pessoas passariam a ter de usar estatina. Não temos ideia ainda do custo-efetividade disso, porque não é uma droga barata", afirma José Rocha Faria Neto, um dos diretores da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Segundo Faria Neto, indivíduos de muito baixo risco, mesmo com PCR alto não tiveram benefícios. "Mesmo que saia a aprovação, ainda é papel do médico olhar individualmente para cada paciente. Se você pegar uma mulher de 60 anos sem nenhum outro fator de risco além da PCR, acho que é preciso usar o bom senso", diz.
No estudo Jupiter, 13 pessoas morreram de problemas gastrointestinais contra uma pessoa do grupo controle. Também houve um aumento estatisticamente significativo de ocorrência de diabetes entre os que ingeriram rosuvastatina.


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