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Guaraná reduz fadiga gerada por químio
Pesquisa brasileira testou o efeito do extrato da planta em mulheres durante tratamento de câncer de mama
Cansaço afeta de 50% a 90% das pacientes que fazem quimioterapia; remédio natural custa pouco e não é tóxico
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
O guaraná, planta nativa
da Amazônia muito usada na
medicina popular como estimulante, pode também tratar a fadiga de mulheres com
câncer de mama que passam
pela quimioterapia. Esse sintoma afeta de 50% a 90%
dessas pacientes.
A conclusão é de um estudo inédito feito por pesquisadores do Hospital Albert
Einstein e da Faculdade de
Medicina do ABC.
O trabalho foi controlado e
envolveu 75 pacientes, divididas em dois grupos: um recebeu 50 mg de extrato seco
de guaraná (Paullinia cupana) duas vezes ao dia, e o outro, placebo.
As mulheres foram acompanhadas durante 21 dias.
Elas responderam a três
questionários que avaliaram
seu grau de fadiga.
Ao final, 66% das pacientes do primeiro grupo relataram melhora, contra 13% do
grupo controle. No início, o
grupo que usou guaraná se
queixou mais de insônia,
mas o sintoma melhorou nas
semanas seguintes.
TRATAMENTO
Segundo Auro del Giglio,
oncologista do Einstein e
professor da Faculdade de
Medicina do ABC, hoje não
existe uma terapia padrão
para tratar a fadiga em pacientes com câncer.
Recentemente, alguns trabalhos avaliaram o uso de
metilfenidato (Ritalina) -remédio usado no tratamento
do transtorno de deficit de
atenção e hiperatividade-
nesses casos, mas não houve
resultados positivos.
"O guaraná é efetivo, barato e não é tóxico", diz o oncologista, que pretende testar o
extrato da planta para sintomas de outros tipos de tratamento de câncer.
O estudo foi baseado em
dissertação de mestrado que
será defendida em agosto,
feita por Maira de Oliveira
Campos, aluna de Giglio.
O próximo trabalho avaliará pacientes com câncer renal que estejam recebendo
inibidores da tirosino-quinase, medicações que sabidamente causam fadiga.
Apesar dos bons efeitos do
guaraná, a planta ainda não
está sendo usada de forma
rotineira no Einstein porque
os pesquisadores planejam
realizar mais dois estudos
que confirmem os resultados
positivos do primeiro.
METODOLOGIA
Segundo a nutróloga Roseli Sarni, da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo), do ponto de vista metodológico, a avaliação da fadiga por meio de questionários é limitada porque não há
uma validação do método
para a realidade brasileira.
Uma das alternativas, diz
ela, seria investigar se houve
ganho de força por meio de
medidas objetivas, usando,
por exemplo, um pedômetro,
aparelho que conta os passos
e a força da pisada.
Além da fadiga, 50% dos
pacientes com câncer também sofrem de depressão. O
problema piora a qualidade
de vida e o prognóstico da
doença -porque a adesão ao
tratamento cai. O estudo, porém, excluiu mulheres com
quadro depressivo.
MISTURAS
Uma das hipóteses que explicariam o efeito estimulante do guaraná é a presença de
2,5% a 5% de cafeína. As propriedades psicoativas viriam
de substâncias (saponinas e
taninas) que atuam sobre o
sistema nervoso central.
O nutrólogo Edson Credidio, doutor em ciência dos
alimentos pela Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas), costuma receitar
o guaraná para pacientes
com fadiga -provocada ou
não por tratamentos oncológicos-, mas faz um alerta sobre a qualidade do produto.
"É comum misturarem pó
de madeira ao pó do guaraná. Aí não tem efeito", diz.
Para evitar que o produto
cause uma hiperestimulação- e efeitos colaterais como a insônia- ele recomenda aos pacientes que usem
apenas 50 mg de guaraná logo após o café da manhã.
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