São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Crescem as cirurgias com tecnologia robótica em SP

Robôs estão em três hospitais paulistas; aplicação em transplante de fígado é inédita

Na cirurgia do câncer de cabeça e pescoço, o custo do robô é três vezes menor que o da cirurgia convencional, com internação mais rápida


Joel Silva/Folha Imagem
Médicos fazem cirurgia de próstata utilizando robô no hospital Albert Einstein, em São Paulo

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Há pouco mais de um ano no Brasil, as cirurgias robóticas cresceram em número de procedimentos (50%, em média) e em áreas de atuação. De transplantes de fígado inéditos no mundo a complexas cirurgias oncológicas, os robôs-cirurgiões já são usados em sete áreas médicas, em três hospitais paulistas (Albert Einstein, Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz).
Alguns planos de saúde, como Omint e Amil, também estudam incluir essas cirurgias no rol de procedimentos autorizados. Em algumas áreas, como no câncer de cabeça e pescoço, o custo da cirurgia robótica chega a ser três vezes menor do que o da convencional e com menor tempo de internação (de dez para dois dias).
Mas, no geral, o preço do robô é maior. Uma prostatectomia (retirada da próstata) robótica, por exemplo, custa R$ 20 mil, em média. A mesma cirurgia, por via laparoscópica convencional, sai por R$ 16 mil e, por via aberta, R$ 12 mil.
A cirurgia robótica é um avanço da intervenção minimamente invasiva, a laparoscopia. Há um ano, sua principal aplicação era na urologia, especialmente nas cirurgias de câncer de próstata.
Nos últimos meses, apareceram novas utilizações, como a retirada de tumores de rim com a preservação do órgão. "A longo prazo, essa cirurgia beneficia os paciente porque a chance de ele desenvolver insuficiência renal é menor do que quando se retira o rim inteiro [o que geralmente ocorre na cirurgia convencional]", diz o urologista José Roberto Colombo Júnior, do Einstein, instituição que reúne o maior número de cirurgias robóticas (200).
No transplante de fígado, o robô está sendo usado no Einstein em um momento delicado da cirurgia, na sutura do canal da bílis (ducto biliar). Segundo a literatura mundial, em 10% a 15% dos casos esse procedimento pode resultar em complicações, como vazamento da bílis ou estreitamento do canal.
"É o início do uso do robô no transplante. Há outras possibilidades futuras, como em anastomoses vasculares [sutura dos vaso sanguíneos] ou na retirada de parte do fígado [em casos de transplante intervivos]", diz o hepatologista Ben-Hur Ferraz Neto, gerente do programa de transplantes.

Aparelho digestivo
O Sírio Libanês, com 108 cirurgias robóticas realizadas, treina hoje médicos para incorporar o robô às cirurgias cardíacas. Eles já fazem a dissecção da artéria mamária com a ajuda do robô e, no futuro, a expectativa é que toda a revascularização do miocárdio seja por meio da robótica.
Outra área de destaque do Sírio é na cirurgia de cabeça e pescoço por via transoral. No procedimento, os braços do robô entram por dentro da boca do paciente e operam tumores da faringe, evitando cortes no pescoço e na mandíbula.
"É uma cirurgia que, normalmente, demora seis ou sete horas. Com o robô, leva-se uma hora e meia. Também não é preciso usar materiais caros, como placas e parafusos, que chegam a custar de R$ 500 a R$ 1.000 cada um", diz o cirurgião Sérgio Samir Arap, do Sírio.
No Hospital Oswaldo Cruz, que reúne 51 cirurgias robóticas, o robô tem operado na retirada de tumores da próstata e do reto e em cirurgias do aparelho digestivo. Uma delas, inédita no Brasil, é a correção de uma doença chamada megaesôfago, em que a pessoa passa a ter uma dificuldade progressiva de deglutir os alimentos (ficam parados no esôfago).
Segundo Joaquim Gama Rodrigues, cirurgião do aparelho digestivo, essa operação, realizada na musculatura do esôfago, é muito delicada e ganha mais precisão e segurança com o uso do robô. "Nessa cirurgia, há frequentemente um risco de perfuração das camadas internas do esôfago. O robô evita isso", afirma o médico.
Rodrigues diz que os resultados das cirurgias robóticas ainda estão sendo avaliados. "É cedo para dizer que os resultados são melhores do que os das cirurgias por laparoscopia ou por via aberta. O que sabemos é que há mais segurança e precisão e que, com o robô, cirurgiões bem preparados conseguem preservar melhor as estruturas que devem ser mantidas."


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