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Aparelho biopsia tumor sem abrir tórax
Endoscópio com ultrassom e agulha é usado em diagnóstico e evolução do câncer de pulmão e pode substituir atuais cirurgias
Novo equipamento fornece imagens em tempo real; procedimento pode ser feito no ambulatório e o paciente tem alta no mesmo dia
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma nova tecnologia recém-aprovada no Brasil permite fazer biopsias na região do pulmão sem abrir o tórax. O procedimento pode substituir as cirurgias exploratórias, feitas para confirmar a suspeita de um
tumor de pulmão -levantada
em exames radiológicos- ou
para acompanhar a evolução do
câncer (estadiamento).
Estima-se que surjam por
ano no Brasil cerca de 20 mil
novos casos de câncer de pulmão -7.000 deles apenas em
São Paulo. Em todos os casos,
essas biopsias são necessárias.
O aparelho, chamado Ebus
(do inglês Endobronquial Ultrasound), é um tipo de endoscópio respiratório que tem um
ultrassom e uma agulha acoplados. Entra pela boca e, na traqueia, transmite a imagem da
região do pulmão para um monitor. Quando localizado o tecido suspeito, a agulha atravessa
a traqueia e faz uma punção do
material. Nenhuma incisão é
necessária. O exame pode ser
feito com sedação, e o paciente
tem alta no mesmo dia.
O exame é considerado pelos
médicos mais seguro porque
evita as complicações de uma
cirurgia convencional. "A cirurgia aberta é mais agressiva, requer maior tempo de internação e de recuperação", explica
Miguel Tedde, cirurgião torácico do InCor (Instituto do Coração), que começou a testar o
aparelho na semana passada.
Segundo ele, o equipamento
também pode substituir a mediastinoscopia ou videotoracoscopia, outros procedimentos cirúrgicos comumente empregados no estadiamento de
casos de câncer de pulmão.
Para Jefferson Gross, diretor
do departamento de tórax do
Hospital A.C.Camargo, o aparelho tem a vantagem de fornecer imagens das vias aéreas, do
pulmão e dos linfonodos (gânglios linfáticos) em tempo real,
o que aumenta a precisão.
Nos métodos tradicionais, o
cirurgião faz uma abertura no
tórax e, na hora de procurar esses gânglios, guia-se por imagens de exames feitos previamente. "[O método tradicional]
não é tão preciso. Há o risco de
não acessar o linfonodo ou de
pegar uma veia e provocar um
sangramento, por exemplo. A
precisão do novo equipamento
é muito maior", explica Gross.
A ressalva é que, se o resultado for negativo, será preciso recorrer às cirurgias convencionais para confirmá-lo. "Quando
o exame não dá positivo, o resultado vem como processo inflamatório. Mas nunca se sabe
se é mesmo um processo inflamatório ou se a agulha não pegou o lugar ideal [onde está o
tumor]", explica Tedde.
Se o exame der positivo, o
que ocorre na maioria dos casos, o resultado é válido. "Com
ele, pouparemos muitas cirurgias", diz Gross.
Custo
Alguns trabalhos recentes,
como uma análise publicada na
revista científica "Lung Cancer", também sugerem que a
relação custo e efetividade do
novo equipamento compensa o
investimento. Nos EUA, o aparelho custa em média US$ 150
mil. No Brasil, o preço ainda
não foi definido.
"Mas, intuitivamente, parece-nos que um método diagnóstico, feito por punção e de
forma ambulatorial, deva ser
mais barato do que um método
operatório que requer internação", avalia Tedde.
A pneumologista da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo) Iunis Suzuki, que acaba
de concluir um treinamento
nos EUA com o aparelho, diz
que ele já faz parte da rotina
dos centros médicos americanos. "É um instrumento muito
importante, que já virou prática obrigatória no estadiamento
de neoplasia pulmonar. É capaz
de visualizar e acessar áreas
que até então só eram possíveis
por cirurgia", diz ela.
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