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Cigarros eletrônicos contêm agente cancerígeno, diz FDA
Análises acham componentes tóxicos nas duas marcas mais vendidas nos EUA
Anunciado como auxiliar para quem quer largar o fumo, produto é ilegal no Brasil e vendido na internet e nos comércios populares
Ricardo Jaeger/Folha Imagem
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Cigarro eletrônico é comparado ao tradicional na UFRGS |
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A FDA -agência americana
que regula medicamentos e alimentos e que recentemente
também passou a controlar o
fumo- informou ontem que os
cigarros eletrônicos contêm
substâncias cancerígenas.
Diferentemente do que afirmam os fabricantes chineses,
que dizem que as baforadas liberam apenas vapor d'água,
análises do governo dos EUA
das duas marcas mais vendidas
naquele país apontaram a presença de diversos componentes
químicos tóxicos, como nitrosamina e dietilenoglicol.
Num comunicado, a agência
reguladora afirmou que o cigarro eletrônico não foi submetido
à aprovação nos EUA e que, por
isso, a venda ainda não é proibida naquele país.
Segundo a FDA, não foram
feitas pesquisas que determinem a quantidade de nicotina e
de outras substâncias tóxicas
liberadas aos fumantes do cigarro eletrônico. "A agência está muito preocupada com a segurança desse produto e com a
forma como ele é vendido", disse a conselheira da FDA Margaret Hamburg.
Segundo os fabricantes chineses, os dispositivos eletrônicos substituem os cigarros comuns, mas sem a emissão das
fumaças poluentes, e servem de
paliativo para quem quer deixar de fumar, já que podem ser
recarregados com cartuchos de
diferentes teores de nicotina.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) diz ser contra o
dispositivo e orientou os países
signatários a proibir a venda.
No Brasil, o cigarro eletrônico é ilegal, segundo a Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), por não ter registro. O Inca (Instituto Nacional
de Câncer) informa que não há
comprovação dos benefícios.
"É mais uma estratégia da indústria tabagista para manter
as pessoas dependentes", afirma Ricardo Meireles, pneumologista da Divisão de Controle
do Tabagismo.
O mecanismo funciona assim: a ponteira contém um cartucho com refis de propilenoglicol, nicotina e aromatizantes
que simulam o sabor de diversas marcas de cigarro comum.
Quando o fumante inala, um
nebulizador vaporiza a nicotina no fluxo de ar. O processo
gera uma névoa -para reproduzir a fumaça do tabaco.
Vapor d'água
"Aquela fumaça não é um vapor d'água, como diz o fabricante. Encomendamos uma
análise química em laboratório", diz Marina Seelig, doutoranda em engenharia mecânica
da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul),
que estuda dispersão de fumaça no Laboratório de Estudos
Térmico e Aerodinâmico da
universidade e é uma das primeiras a estudar o cigarro eletrônico no país.
"O marketing dos cigarros
eletrônicos é controverso e eles
não deveriam ser vendidos
abertamente no mercado sem
regulamentação do governo",
disse à Folha Clifford Douglas,
diretor do Laboratório de Pesquisas de Tabaco da Universidade de Michigan, nos EUA.
Mesmo ilegal, o cigarro eletrônico é vendido livremente
em páginas brasileiras na internet e no comércio popular
da rua 25 de Março, na região
central de São Paulo.
Sem registro, o cigarro eletrônico que chega ao Brasil, diz
a Anvisa, é fruto de contrabando. A agência abriu consulta
pública, encerrada hoje, para a
resolução que regulamenta a
proibição da venda e do consumo do cigarro eletrônico.
Pela internet
Em sites brasileiros, o dispositivo é vendido por R$ 280,
com pagamento com cartões de
crédito e boleto bancário ou
através de depósito em conta.
No Orkut, diversos usuários
oferecem o produto pela metade do preço. Na rua 25 de Março, o cigarro eletrônico é encontrado facilmente nas bancas de vendedores chineses.
"Temos nota fiscal e a importação é de forma legal", diz Rafael Donato, dono do site Cigarro do Futuro, que primeiro afirmou ter autorização da Anvisa
para a venda do produto, mas
depois voltou atrás.
"A venda clandestina e pela
internet é questão de polícia.
Criaram isso para burlar a legislação", afirma Adilson Bezerra, chefe de segurança institucional da Anvisa. A agência
apreende os carregamentos
que chegam ao país.
"A nicotina não é inócua. São
necessários mais estudos sobre
o dispositivo para ter a certeza
de que ele é eficaz e seguro para
ser liberado", diz Jussara Fiterman, presidente da Sociedade
Brasileira de Pneumologia.
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