São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2011

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Dois dias sem diálise elevam risco de morte

Dado é de estudo americano com 32 mil pessoas que questiona o modelo atual do tratamento para doentes renais

Intervalo da filtragem do sangue no fim de semana pode causar infartos, derrames e até morte súbita

MARIANA VERSOLATO

DE SÃO PAULO

Um grande estudo publicado nesta semana questiona o modelo clássico de hemodiálise, que tem sido usado há mais de três décadas, e afirma que as três sessões semanais do tratamento não são suficientes.
Segundo pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos EUA, o período de dois dias sem hemodiálise, geralmente no fim de semana, aumenta em 22% o risco de morte, por causa do acúmulo de líquido e de toxinas.
Além disso, o número de hospitalizações por causa de derrames e problemas cardíacos mais que dobra no dia seguinte após essa pausa.
Em geral, os pacientes com doença renal crônica fazem hemodiálise de segunda, quarta e sexta ou de terça, quinta e sábado.
Especialistas dizem que o estudo, que envolveu 32 mil pacientes e foi publicado no "New England Journal of Medicine", confirma o que eles veem nos ambulatórios.
"O dia mais delicado é após o fim de semana. Acontecem mais mortes súbitas e edemas de pulmão", afirma Paulo Ayroza Galvão, cocoordenador do núcleo de nefrologia do Hospital Sírio-Libanês.

SOLUÇÃO
No Hospital das Clínicas da USP, cerca de 20 pessoas já fazem a hemodiálise diariamente, com bons resultados.
"Nossa experiência bate com o resultado do estudo. Todos tiveram melhor qualidade de vida", diz Hugo Abensur, professor da USP e responsável pela hemodiálise do Hospital das Clínicas.
Essa melhora acontece porque o paciente acumula menos líquido e toxinas entre um dia e outro e sai menos debilitado da sessão. A hemodiálise diária, no entanto, pode ser mais aplicável para pacientes com maior risco de complicações.
"Não digo que a solução seja a diária. Pode ser que uns precisem de quatro, outros de cinco sessões por semana."

MUDANÇA
Para Daniel Rinaldi, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, o modelo atual vai ter de ser revisto.
"Sabemos que o paciente que faz diálise todo dia se sente melhor, e que o esquema que oferecemos talvez não seja o mais adequado."
O problema, diz Rinaldi, é que a diálise no Brasil já enfrenta uma crise: há poucas clínicas, muitas delas, sucateadas, o custo do tratamento está defasado e há demora no repasse do governo.
"O serviço está inadequado, mas aumentar as sessões pode se tornar inviável por falta de estrutura financeira e física. De toda forma, é obrigação nossa dar o melhor tratamento ao paciente."


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