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Infartado atendido pelo SUS morre mais após a alta
Paciente do sistema público tem risco de morte 36% superior aos particulares
Estudo realizado pelo InCor acompanhou a saúde de 1.588 pessoas infartadas após terem recebido alta durante sete anos e meio
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pacientes que sofreram infarto e têm acompanhamento
de saúde feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde) têm 36%
mais chances de morrer do que
aqueles que são acompanhados
por médicos particulares ou de
convênios. A constatação é de
um estudo inédito realizado
pelo InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas de
São Paulo, que foi publicado em
dezembro nos "Arquivos Brasileiros de Cardiologia".
Trata-se do primeiro estudo
brasileiro a mostrar que, após o
atendimento de emergência e a
alta, os índices de morte em pacientes infartados atendidos no
sistema público são maiores.
Os pesquisadores acompanharam 1.588 pacientes (1.003
do SUS e 585 de convênios ou
particulares) após a alta durante sete anos e meio. A taxa de
mortalidade no período de internação foi semelhante nos
dois grupos (cerca de 11%), mas
o prognóstico foi pior em pacientes do SUS.
Os pacientes foram acompanhados através de telefonemas.
A cada contato, os pesquisadores perguntavam se o doente tinha feito uma consulta médica
nos últimos seis meses e se tinha medido o colesterol.
A pesquisa aponta que 91,3%
dos pacientes atendidos por
convênio ou particular no InCor tinham passado por uma
consulta nos seis meses anteriores contra 86,1% daqueles
atendidos pelo SUS. Além disso, 90,1% dos pacientes de convênio ou particular haviam medido o colesterol no mesmo período, contra 79,9% dos atendidos pelo SUS.
Segundo o cardiologista José
Carlos Nicolau, autor do estudo
e diretor da Unidade Clínica de
Coronariopatia Aguda do InCor, a pesquisa foi feita para
chamar a atenção para o atendimento prestado à população
que depende do SUS. "Será que
está sendo feito tudo o que é
necessário?", questiona.
Hipóteses
Nicolau diz que a pesquisa
não investigou as causas das
mortes, mas aponta quatro hipóteses para os resultados:
acompanhamento inadequado
pela rede básica de saúde, falta
de acesso a medicamentos, alimentação inadequada e falta de
adesão ao tratamento.
"O que a gente constatou é
que a sobrevida no SUS é menor após a alta hospitalar,
quando essas pessoas devem
ser acompanhadas em suas cidades", diz Nicolau.
Para o cardiologista Ari Timerman, presidente da Socesp
(Sociedade de Cardiologia do
Estado de São Paulo), o estudo
traz uma relação entre a situação financeira do paciente e o
acompanhamento que ele recebe, mas também mostra que o
serviço prestado pelo SUS é eficiente na fase de internação. "A
gente costuma criticar, mas a
mortalidade na fase hospitalar
é igual nos dois grupos", diz.
Segundo Timerman, os dados confirmam a relação entre
a condição econômica e o acesso à saúde. "Isso vale para remédios, consultas e alimentação adequada", avalia o médico.
O cardiologista José Marconi
Almeida de Sousa, chefe do
Ambulatório da Mulher Cardiopata da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) diz
que os resultados apontam para duas situações importantes.
"Ou o atendimento no SUS não
está totalmente adequado ou o
paciente não está tendo acesso
aos medicamentos e aos especialistas da área", diz.
O Ministério da Saúde foi
procurado, mas não comentou
a pesquisa.
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