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Reduzir carne vermelha diminui mortalidade
Pesquisa publicada no "Jama" acompanhou 500 mil pessoas durante dez anos
Para pesquisadores, 11% das mortes em homens e 16% em mulheres poderiam ter sido adiadas com a redução de carne vermelha
JULLIANE SILVEIRA
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo divulgado hoje no
"Jama" (revista da Associação
Médica Americana) aponta relação entre o consumo de carne
vermelha e carnes processadas
e maior número de mortes por
câncer e problemas cardiovasculares. A pesquisa, uma das
maiores já realizadas, analisou
dados de 500 mil norte-americanos de 50 a 71 anos de idade.
Em dez anos de acompanhamento, morreram 47.976 homens e 23.276 mulheres. Para
os pesquisadores, 11% das mortes em homens e 16% das mortes em mulheres poderiam ser
adiadas se houvesse redução do
consumo de carne vermelha
para 9 g do produto a cada
1.000 calorias ingeridas -o
grupo que mais ingeriu carne
vermelha (68 g a cada 1.000 calorias) foi o que apresentou
maior incidência de morte.
No caso das doenças cardiovasculares, a diminuição dos
riscos chegaria a 21% nas mulheres se houvesse redução. "A
carne processada tem mais sal
e gordura saturada, o que aumenta chances de doenças cardiovasculares", diz Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista
do Hospital do Coração.
Para o cardiologista Marcos
Knobel, coordenador da unidade coronária do hospital Albert
Einstein, além da gordura da
carne, o problema é o preparo e
os outros alimentos que são somados à refeição. "Se a pessoa
come um bife à milanesa ou um
bife com ovo frito, já estourou
de longe a cota de colesterol."
Além disso, ele alerta para os
condimentos. "O sal aumenta o
risco de hipertensão arterial
sistêmica. Se a carne for processada, é pior porque, além do
sódio, geralmente tem óleos
para a conservação."
Câncer
Os riscos de câncer estão
principalmente relacionados à
forma de preparação de qualquer tipo de carne. Sabe-se que,
durante o cozimento em altas
temperaturas, são formadas
aminas heterocíclicas, substâncias reconhecidamente cancerígenas. As maiores temperaturas são atingidas ao grelhar na
chapa e fritar com pouco óleo o
alimento. Por esse motivo, indica-se a preparação no forno
ou em um cozido.
O churrasco também traz perigo. Durante a preparação, a
fumaça do carvão libera alcatrão e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, substâncias
também cancerígenas. "A associação é feita principalmente
com as carnes vermelhas, porque elas são preparadas mais
frequentemente em churrasco
ou na chapa", afirma Fábio Gomes, nutricionista do Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Segundo o cirurgião oncológico Benedito Mauro Rossi, do
Hospital A.C. Camargo, a relação entre consumo de carne e
câncer está muito estabelecida,
inclusive no Brasil. A distribuição geográfica do câncer do intestino, por exemplo, mostra
que no Amapá, a incidência do
tumor é de 1,51 caso por 100 mil
habitantes, enquanto no Rio
Grande do Sul, a terra do churrasco, a incidência é de 28,5 por
100 mil habitantes.
Outro mecanismo desencadeante de câncer seria o excesso de ferro no organismo, ocasionado pelo alto consumo de
carne vermelha, importante
fonte do mineral. Muito ferro
pode causar danos oxidativos e
agredir as células do intestino
grosso, o que leva ao câncer.
Já as carnes processadas, como linguiças, charque e hambúrgueres, são conservadas
com nitritos e nitratos, substâncias, que, no estômago, são
transformadas em nitrosaminas, que aumentam as chances
de ocorrer um câncer no estômago e no intestino. A recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de que
a ingestão de carne (excluindo
frango e peixe) não ultrapasse
os 300 g por semana.
Como a carne vermelha é boa
fonte de ferro, é indicado aumentar o consumo de vegetais
folhosos verde-escuros, também ricos no mineral.
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