São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011 |
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PLANTÃO MÉDICO JULIO ABRAMCZYK - julio@uol.com.br Remédio mais caro nem sempre é melhor Preço alto não indica que o remédio seja melhor do que os outros. É o caso de um medicamento alvo de um estudo publicado na revista "New England Journal of Medicine", no dia 7 deste mês. A droga é o nesiritide, do laboratório Scios, subsidiária da Johnson & Johnson, indicado para o tratamento da insuficiência cardíaca aguda descompensada. Nessa doença, o coração não impulsiona o sangue de forma adequada para todo o organismo, levando à dificuldade respiratória e ao acúmulo de líquido nos pulmões. O niseritide, de uso endovenoso, foi aprovado pela FDA (agência reguladora de remédios e alimentos nos EUA) em 2001, para alívio da falta de ar em portadores de insuficiência cardíaca aguda. Mas a droga, além de não promover melhora respiratória significativa, também não ajudava em outros problemas decorrentes da doença. O estudo atual, publicado no "NEJM", não recomenda o seu uso de rotina. E um editorial na mesma revista, assinado pelo professor Eric J. Topol, assinala que o termo "década perdida" pode ser aplicado ao nesiritide, cujo emprego começou em 2001 e volta à berlinda em 2011. Para Topol, esse medicamento é um exemplo de grande desperdício. Bilhões de dólares foram gastos, a US$ 500 por infusão, explica, quando nitroglicerina ou furosemida (US$ 10 a infusão), já provaram eficácia. No mesmo "NEJM", Topol já escrevia, em 2005, que, para ele, "o nesiritide não tem o mínimo critério para segurança e eficácia". E perguntava como uma droga muito mais cara que outras mais eficazes pode ser aplicada em mais de 600 mil pacientes nos EUA. Ele responde à própria pergunta: porque uma agressiva campanha de marketing do laboratório incentivou os médicos a criarem seus próprios "centros de infusão" da droga, cujos serviços eram remunerados pelo Medicare, um convênio médico americano. Uma pesquisa feita atualmente com cardiologistas de São Paulo indaga se indicariam o uso do medicamento. A resposta tem sido negativa. Texto Anterior: Raio - X: Robert Lustig Índice | Comunicar Erros |
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