São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Técnica faz cortes a laser em cirurgias refrativas

Método torna operações da visão mais seguras e reduz tempo de recuperação

Procedimento pode ser usado ainda em transplante e em implante de anel em pessoas com ceratocone, um problema na córnea

FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Centros médicos brasileiros começam a oferecer uma nova tecnologia que torna mais seguras cirurgias oftalmológicas como a refrativa, para a correção de miopia, astigmatismo e hipermetropia. Trata-se de um aparelho que permite fazer cortes a laser -o que torna essa cirurgia um procedimento totalmente a laser, do início ao fim.
Normalmente, os cortes são feitos mecanicamente, com um aparelho chamado microcerátomo. Com a nova tecnologia, o laser transforma uma camada de tecido corneano em vapor d'água, o que permite levantar uma lâmina da córnea para depois fazer a correção do grau.
Chamado Intralase, o método pode ser usado ainda em transplantes de córnea e no implante de anéis intracorneanos em quem tem ceratocone, problema nessa parte do olho.
"O corte é perfeito e a precisão, muito maior. Antes, dependíamos muito da habilidade do cirurgião", diz Leon Grupenmacher, coordenador de implantes corneanos do Hospital Oftalmológico de Sorocaba, a primeira instituição a usar a técnica na América Latina, em setembro de 2006.
Com o Intralase, o corte fica mais fino e com a espessura uniforme. Assim, mais pessoas passam a ser candidatas à cirurgia refrativa -com o método tradicional, se a espessura da córnea do paciente for muito fina e dependendo do grau a ser corrigido, ele não tem indicação de operar, por causa da espessura do corte.
A chance de erro também diminui, o que é significativo, pois grande parte das complicações nas cirurgias refrativas decorre do corte. De acordo com Grupenmacher, por causa desses erros, o paciente pode ter deformidades na córnea e voltar a usar lentes de contato, já que o grau pode até piorar.
"A chance de complicações [com o método convencional] é muito pequena, mas, como é feita uma quantidade enorme de cirurgias refrativas no país, é fundamental termos mais segurança", afirma.
No caso do transplante de córnea, o número de pontos cai, com o novo método, de 24 a 32 para 8 a 12. A recuperação, que normalmente pode chegar a um ano e meio, passa a ser de seis meses. Para quem recebe o anel intracorneano, a redução é de 90 para 30 dias.
Segundo Mauro Campos, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com o novo método a variabilidade no corte foi reduzida de 30% para menos de 1%. A Cerpo, clínica da qual é sócio-diretor, foi a segunda do país a oferecer o Intralase, instalado no fim do ano passado.
Ele diz que isso é especialmente importante no caso de pacientes de maior risco, para os quais é necessário que o corte tenha um profundidade exata. "Você não consegue isso com o aparelho manual. E, mesmo no caso daqueles pacientes que não têm tanta restrição, se o corte for muito profundo pode produzir um enfraquecimento da córnea. Com o laser a chance é menor."
Um levantamento finalizado recentemente pela Cerpo mostra, ainda, que o aparelho é mais fácil de usar, o que reduz as chances de complicação nas primeiras cirurgias feitas pelo médico. No caso do aparelho manual, dos 400 primeiros casos operados, 20 tiveram algum problema. Com o laser, houve apenas um problema com os primeiros 400 pacientes.
No caso do implante de anel, dos cem primeiros casos, houve complicações em 2% -com a técnica manual, o índice é de 14,5%. "A adaptação do médico à nova técnica é quase imediata", diz Campos.
Ele ressalta, porém, que isso não quer dizer que a técnica convencional seja ruim. "Ainda é a que predomina no mundo todo. Temos milhares de pessoas operadas com resultados excelentes. Mas a substituição pelo laser é questão de tempo."

Preço alto
O aparelho de Intralase custa em torno de US$ 650 mil -e a cirurgia refrativa pode valer o dobro com ele. Para o paciente do Cerpo, por exemplo, o custo sobe de R$ 2.500 por olho para R$ 5.000. Na instituição, 20% das cirurgias refrativas já são feitas totalmente a laser.
Há mais de 1.800 aparelhos no mundo. Nos Estados Unidos, segundo o fabricante, 25% das cirurgias refrativas são feitas com esse método.
Além dos aparelhos existentes em São Paulo, instituições em Curitiba, em Brasília e no Rio de Janeiro estão adquirindo a tecnologia. "Não tem volta. Quem usa não quer voltar à técnica convencional. É muito superior", diz Grupenmacher.
O hospital Albert Einstein também já adquiriu o Intralase, que deve funcionar em três semanas. "É um recurso que vai melhorar muito a qualidade das cirurgias refrativas. Ganha-se em previsibilidade e em precisão, com muito menos agressão à córnea", diz o oftalmologista Cláudio Lottenberg, presidente do hospital.


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