São Paulo, sábado, 24 de outubro de 2009

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Resultado de cirurgia de catarata é pior no Brasil

60% das cirurgias são consideradas boas, contra 90% nos países desenvolvidos

Ministério da Saúde diz que desenvolveu em setembro um projeto para avaliação dos resultados da cirurgia de catarata em todo o país


JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mostra que somente 60% dos resultados da cirurgia de catarata realizados no Brasil podem ser considerados bons. Isso quer dizer que, após a cirurgia e com o uso de óculos apropriados quando necessário, esses pacientes voltaram a realizar, sem prejuízos, atividades de seu dia a dia, como ler jornal, dirigir e costurar.
O restante dos pacientes apresentou visão alterada (que passa a interferir no cotidiano), visão subnormal (com prejuízo mais acentuado) e cegueira.
Em países desenvolvidos, os índices de bons resultados atingem 90% das pessoas que passaram pela cirurgia.
Os dados, colhidos em 2004 e 2005, integram um projeto intitulado "The São Paulo Eye Study", feito com 4.224 pessoas de três regiões de São Paulo com apoio da Organização Mundial da Saúde, para levantar informações sobre cegueira e cirurgia de catarata. As conclusões dessa parte do trabalho foram publicadas na edição de agosto do "American Journal of Ofthalmology".
Os pesquisadores afirmam que os resultados podem ser extrapolados para a população urbana de todo o país e incluem pacientes tratados na rede pública e privada -cerca de 70% das cirurgias realizadas no país são feitas pelo SUS.
Foram avaliados moradores de Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista e Vila Jacuí, áreas da zona leste de São Paulo com características socioeconômicas semelhantes à média de regiões urbanas do país.
"A periferia de São Paulo tem perfil parecido com o resto do Brasil. Eles representam a maior parte das pessoas que moram nas áreas urbanas brasileiras", diz a pesquisadora em ciências visuais Solange Salomão, uma das autoras.
Para chegarem aos índices, os pesquisadores mediram a acuidade visual dos pacientes após a cirurgia por meio de exames oftalmológicos de rotina. Deles, 41% apresentaram visão boa. Com a indicação de óculos adequados, esse número saltou para 60%. "Essa é uma preocupação não somente da Unifesp mas também do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Há necessidade de verificar o retorno da qualidade de vida em relação ao dinheiro aplicado na cirurgia de catarata", afirma Hamilton Moreira, ex-presidente e conselheiro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia).
Os 40% restantes podem ter tido problemas por causa da cirurgia. Segundo Salomão, a principal hipótese que ajuda a explicar os resultados insatisfatórios são procedimentos inadequados durante a operação e a falta de acompanhamento do paciente no pós-operatório.

Deficiência técnica
Um dos problemas centrais é o treinamento insuficiente da equipe de cirurgia. "Uma das explicações é que, há cerca de quatro anos, foi incorporada ao SUS uma nova cirurgia, chamada de facoemulsificação, com recuperação muito mais rápida. Por ser relativamente nova, precisamos incorporar tecnologia e conhecimento para termos resultados bons. Mas estamos investindo em treinamento", afirma Moreira. A maioria dos avaliados se submeteu a esse tipo de cirurgia.
Para o oftalmologista Newton Kara José Jr., do Hospital das Clínicas de São Paulo, a má qualidade técnica da cirurgia ficou evidente quando se observou que, em 9,4% dos casos, a lente intraocular -procedimento padrão para a cirurgia- não foi aplicada. "Uma vez que muitos procedimentos foram realizados há muito tempo, pode ser que esse problema já esteja solucionado", pondera.
O cálculo incorreto para a aplicação de lentes intraoculares também pode ter contribuído para resultados inferiores. A escolha da lente se baseia no tamanho do cristalino do paciente e em seus problemas de visão -quando há falhas na opção, a visão pode ser prejudicada.
Os pacientes também precisam de acompanhamento após a cirurgia, para aplicação correta de colírios, verificação da necessidade de óculos ou de um novo procedimento.
O Ministério da Saúde afirmou que criou em setembro um projeto para avaliação dos resultados da cirurgia de catarata no país e que os resultados do estudo são amostrais.


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