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Resultado de cirurgia de catarata é pior no Brasil
60% das cirurgias são consideradas boas, contra 90% nos países desenvolvidos
Ministério da Saúde diz que desenvolveu em setembro um projeto para avaliação dos resultados da cirurgia de catarata em todo o país
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pesquisa da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo) mostra que somente
60% dos resultados da cirurgia
de catarata realizados no Brasil
podem ser considerados bons.
Isso quer dizer que, após a cirurgia e com o uso de óculos
apropriados quando necessário, esses pacientes voltaram a
realizar, sem prejuízos, atividades de seu dia a dia, como ler
jornal, dirigir e costurar.
O restante dos pacientes
apresentou visão alterada (que
passa a interferir no cotidiano),
visão subnormal (com prejuízo
mais acentuado) e cegueira.
Em países desenvolvidos, os
índices de bons resultados atingem 90% das pessoas que passaram pela cirurgia.
Os dados, colhidos em 2004 e
2005, integram um projeto intitulado "The São Paulo Eye
Study", feito com 4.224 pessoas
de três regiões de São Paulo
com apoio da Organização
Mundial da Saúde, para levantar informações sobre cegueira
e cirurgia de catarata. As conclusões dessa parte do trabalho
foram publicadas na edição de
agosto do "American Journal of
Ofthalmology".
Os pesquisadores afirmam
que os resultados podem ser
extrapolados para a população
urbana de todo o país e incluem
pacientes tratados na rede pública e privada -cerca de 70%
das cirurgias realizadas no país
são feitas pelo SUS.
Foram avaliados moradores
de Ermelino Matarazzo, São
Miguel Paulista e Vila Jacuí,
áreas da zona leste de São Paulo
com características socioeconômicas semelhantes à média
de regiões urbanas do país.
"A periferia de São Paulo tem
perfil parecido com o resto do
Brasil. Eles representam a
maior parte das pessoas que
moram nas áreas urbanas brasileiras", diz a pesquisadora em
ciências visuais Solange Salomão, uma das autoras.
Para chegarem aos índices,
os pesquisadores mediram a
acuidade visual dos pacientes
após a cirurgia por meio de exames oftalmológicos de rotina.
Deles, 41% apresentaram visão
boa. Com a indicação de óculos
adequados, esse número saltou
para 60%. "Essa é uma preocupação não somente da Unifesp
mas também do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Há necessidade de verificar o retorno
da qualidade de vida em relação
ao dinheiro aplicado na cirurgia de catarata", afirma Hamilton Moreira, ex-presidente e
conselheiro do CBO (Conselho
Brasileiro de Oftalmologia).
Os 40% restantes podem ter
tido problemas por causa da cirurgia. Segundo Salomão, a
principal hipótese que ajuda a
explicar os resultados insatisfatórios são procedimentos inadequados durante a operação e
a falta de acompanhamento do
paciente no pós-operatório.
Deficiência técnica
Um dos problemas centrais é
o treinamento insuficiente da
equipe de cirurgia. "Uma das
explicações é que, há cerca de
quatro anos, foi incorporada ao
SUS uma nova cirurgia, chamada de facoemulsificação, com
recuperação muito mais rápida. Por ser relativamente nova,
precisamos incorporar tecnologia e conhecimento para termos resultados bons. Mas estamos investindo em treinamento", afirma Moreira. A maioria
dos avaliados se submeteu a esse tipo de cirurgia.
Para o oftalmologista Newton Kara José Jr., do Hospital
das Clínicas de São Paulo, a má
qualidade técnica da cirurgia ficou evidente quando se observou que, em 9,4% dos casos, a
lente intraocular -procedimento padrão para a cirurgia-
não foi aplicada. "Uma vez que
muitos procedimentos foram
realizados há muito tempo, pode ser que esse problema já esteja solucionado", pondera.
O cálculo incorreto para a
aplicação de lentes intraoculares também pode ter contribuído para resultados inferiores. A
escolha da lente se baseia no tamanho do cristalino do paciente e em seus problemas de visão
-quando há falhas na opção, a
visão pode ser prejudicada.
Os pacientes também precisam de acompanhamento após
a cirurgia, para aplicação correta de colírios, verificação da necessidade de óculos ou de um
novo procedimento.
O Ministério da Saúde afirmou que criou em setembro
um projeto para avaliação dos
resultados da cirurgia de catarata no país e que os resultados
do estudo são amostrais.
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