São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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Droga antirretroviral é eficaz na prevenção

Pela primeira vez, estudo clínico prova efeito protetor do remédio contra infecção por HIV

DENISE MENCHEN
DO RIO

Pesquisa feita em seis países, Brasil incluído, mostrou que o uso profilático de um remédio antirretroviral reduz o risco de infecção por HIV em até 94,9% em homens que fazem sexo com homens.
É a primeira vez que a eficácia dessa droga na prevenção da Aids fica comprovada.
A droga usada foi o Truvada, que inibe a replicação do vírus e é uma das opções para o tratamento de pessoas com HIV. No Brasil, ela está em fase de registro junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O estudo envolveu 2.499 voluntários com alto risco. Metade recebeu o Truvada, e metade, placebo.
Todos foram orientados a tomar um comprimido ao dia. Eles recebiam camisinhas, aconselhamento psicológico e faziam testes de HIV, além de testagem e tratamento de doenças que facilitam a infecção pelo vírus.
Ao fim da pesquisa, cem pessoas tinham contraído o vírus -36 no grupo que recebeu a droga (mas não necessariamente a tomou todo dia) e 64 no grupo-controle.
Conforme aumentou a adesão, aumentou a proteção. O melhor resultado foi entre voluntários que tinham praticado sexo anal passivo desprotegido e tiveram detectada a presença da droga no sangue. O risco de contágio foi 94,9% menor do que entre os que não tinham sinais da droga no sangue.
"É um marco na história da prevenção da Aids", diz a infectologista Valdiléa Veloso, da Fiocruz, que conduziu o projeto no Brasil com a USP e a UFRJ. Os dados, diz ela, abrem a possibilidade de que os antirretrovirais sejam incorporado às opções de prevenção. Novos estudos serão necessários para apurar a eficácia em outros grupos.
Outro desafio é garantir a adesão à droga. O coordenador da pesquisa na UFRJ, Mauro Schechter, diz que ela ficou abaixo do esperado.

EFEITOS
O funcionário público Fábio Santana, 37, um dos voluntários da pesquisa no Rio, diz que teve a ajuda da avó, para não esquecer de tomar a droga. "Todo o dia, no café da manhã, ela tomava os remédios dela, e eu, o meu."
Santana, que não sabe se recebeu placebo ou remédio, diz não ter sentido efeitos adversos. Outros voluntários tiveram náuseas e elevação dos níveis de creatinina.
O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, diz que o uso profilático de antirretrovirais pode ser útil em situações em que o uso de preservativo é difícil de ser negociado.
Ele diz, porém, que a pesquisa traz embutido o risco de "medicalizar a prevenção", o que pode ter efeitos danosos a longo prazo, como a criação de resistência aos medicamentos. "As pessoas não podem diminuir o uso do preservativo."


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