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Escassez de drogas afeta hemofílicos
Maioria dos hemocentros reduziu a quantidade de remédios ao nível de sobrevivência dos doentes, diz TCU
Problema prejudica a independência dos pacientes, obrigando-os a visitas constantes às unidades de tratamento
DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA
Alan Nascimento e Silva,
13, poderia escolher duas atividades para a última quinta-feira: ir à Escola Municipal
Monte Castelo ou nadar na
Vila Olímpica Clara Nunes,
ambas próximas à sua casa,
no subúrbio do Rio.
Mas ele teve que passar o
dia no Hemorio, no centro da
cidade. Nos últimos três meses, as visitas à unidade para
tratamento da hemofilia
acontecem ao menos três vezes por semana.
O Estado deixou de dar
uma quantidade de remédios
suficiente para Alan se tratar
em casa, o que vem se repetindo por todo o Brasil.
A hemofilia é uma doença
hereditária que dificulta a
coagulação do sangue. Os
portadores sofrem sangramentos e precisam tomar remédios regularmente.
O governo federal, que distribui o remédio aos Estados,
tem comprado menos de
uma unidade por habitante
ao ano, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União).
Essa quantidade é considerada suficiente só para a sobrevivência, segundo a Federação Mundial de Hemofilia.
Países como Argentina e
Portugal compram mais que
o dobro disso, permitindo
que os hemofílicos tenham
uma vida independente.
"Mesmo se não estivesse
no hemocentro, não conseguiria fazer natação. Meu tornozelo dói demais", diz Alan.
As dores acontecem porque os sangramentos ressecam as cartilagens, causando hemoartrose.
A mãe de Alan, Dulcemara
Nascimento e Silva, 41, diz
que deixou o emprego por
causa das constantes viagens ao hemocentro.
Após o Hemorio informar,
em janeiro, que não daria
mais remédios suficientes
para o menino se tratar em
casa, eles viraram "escravos
do hemocentro".
As sequelas deixadas pela
hemoartrose atrapalham a
vida de Alan. Além das dores
no pé, que o fazem usar muletas, ele leva a cabeça ao
garfo para comer, por não
conseguir dobrar o braço.
BUROCRACIA
Segundo o relatório do
TCU, 75% dos hemocentros
informaram que houve redução da quantidade de remédio enviada em 2008 em relação aos anos anteriores e
54% suspenderam cirurgias
não emergenciais.
Os técnicos constataram
ainda que entre janeiro de
2007 e abril de 2009, o ministério ficou sem hemoderivados por quatro meses.
"Uma a duas vezes por
ano, restringimos tratamentos para evitar ficar sem o
produto, o que pode causar a
morte de uma pessoa acidentada", afirmou Cármino de
Souza, que dirige o Hemocentro de Campinas e é presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia.
Segundo o ministro José
Jorge, relator do processo, o
TCU determinou que o ministério desburocratize as compras e autorizou o órgão a fazer contratos mais longos para melhorar o abastecimento.
O Ministério da Saúde informou que, neste ano, aumentará o volume de compras do principal medicamento utilizado pelos portadores de hemofilia.
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