São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2010

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Escassez de drogas afeta hemofílicos

Maioria dos hemocentros reduziu a quantidade de remédios ao nível de sobrevivência dos doentes, diz TCU

Problema prejudica a independência dos pacientes, obrigando-os a visitas constantes às unidades de tratamento

DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA

Alan Nascimento e Silva, 13, poderia escolher duas atividades para a última quinta-feira: ir à Escola Municipal Monte Castelo ou nadar na Vila Olímpica Clara Nunes, ambas próximas à sua casa, no subúrbio do Rio.
Mas ele teve que passar o dia no Hemorio, no centro da cidade. Nos últimos três meses, as visitas à unidade para tratamento da hemofilia acontecem ao menos três vezes por semana.
O Estado deixou de dar uma quantidade de remédios suficiente para Alan se tratar em casa, o que vem se repetindo por todo o Brasil.
A hemofilia é uma doença hereditária que dificulta a coagulação do sangue. Os portadores sofrem sangramentos e precisam tomar remédios regularmente.
O governo federal, que distribui o remédio aos Estados, tem comprado menos de uma unidade por habitante ao ano, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União). Essa quantidade é considerada suficiente só para a sobrevivência, segundo a Federação Mundial de Hemofilia.
Países como Argentina e Portugal compram mais que o dobro disso, permitindo que os hemofílicos tenham uma vida independente.
"Mesmo se não estivesse no hemocentro, não conseguiria fazer natação. Meu tornozelo dói demais", diz Alan.
As dores acontecem porque os sangramentos ressecam as cartilagens, causando hemoartrose.
A mãe de Alan, Dulcemara Nascimento e Silva, 41, diz que deixou o emprego por causa das constantes viagens ao hemocentro.
Após o Hemorio informar, em janeiro, que não daria mais remédios suficientes para o menino se tratar em casa, eles viraram "escravos do hemocentro".
As sequelas deixadas pela hemoartrose atrapalham a vida de Alan. Além das dores no pé, que o fazem usar muletas, ele leva a cabeça ao garfo para comer, por não conseguir dobrar o braço.

BUROCRACIA
Segundo o relatório do TCU, 75% dos hemocentros informaram que houve redução da quantidade de remédio enviada em 2008 em relação aos anos anteriores e 54% suspenderam cirurgias não emergenciais.
Os técnicos constataram ainda que entre janeiro de 2007 e abril de 2009, o ministério ficou sem hemoderivados por quatro meses.
"Uma a duas vezes por ano, restringimos tratamentos para evitar ficar sem o produto, o que pode causar a morte de uma pessoa acidentada", afirmou Cármino de Souza, que dirige o Hemocentro de Campinas e é presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia.
Segundo o ministro José Jorge, relator do processo, o TCU determinou que o ministério desburocratize as compras e autorizou o órgão a fazer contratos mais longos para melhorar o abastecimento.
O Ministério da Saúde informou que, neste ano, aumentará o volume de compras do principal medicamento utilizado pelos portadores de hemofilia.


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