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Cirurgia pode tratar obesidade leve
Conhecida como gastrectomia vertical, técnica não interrompe ligação do estômago com o intestino
Para presidente da Abeso, é preciso tomar cuidado com a indicação da cirurgia para não aumentar os riscos e banalizar o procedimento
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma nova técnica cirúrgica
de redução de estômago deve
ser regulamentada hoje, depois
de um consenso da SBCBM
(Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica).
Na técnica, chamada gastrectomia vertical, o médico retira
cerca de 80% do estômago do
paciente e o transforma em um
tubo contínuo que vai do esôfago até o duodeno, preservando
a ligação com o intestino.
De acordo com o cirurgião
Marcos Leão Vilas-Boas, vice-presidente da SBCBM, nesses
casos, a pessoa perde cerca de
30% do peso e emagrece sem
perder nutrientes, pois não há
alteração na digestão e os alimentos continuam sendo absorvidos normalmente.
"O paciente sente menos fome, come menos e tem sensação de saciedade. A diferença
para as outras técnicas é que a
perda de peso é um pouco menor e acontece mais devagar."
Desenvolvida no Canadá, a
gastrectomia vertical é regulamentada no Brasil como a primeira etapa de um procedimento cirúrgico mais complexo em pacientes superobesos,
que precisam perder muitos
quilos antes de passar pela cirurgia tradicional, conhecida
como bypass gástrico.
No bypass, mais de 90% do
estômago é separado e grampeado. A digestão também é alterada, pois o estômago que sobra é ligado diretamente ao íleo
e há menos absorção de alguns
nutrientes. O paciente perde
cerca de 40% do peso.
A proposta
Com o tempo, os canadenses
perceberam que fazer apenas a
primeira parte da cirurgia nos
superobesos proporcionava
bons resultados. Daí surgiu a
ideia de realizar essa cirurgia
como um procedimento isolado em pessoas que querem perder menos peso.
A ideia da SBCBM é que, a
partir da regulamentação da
técnica, a gastrectomia vertical
seja oficialmente recomendada
e feita como rotina em pacientes que não são superobesos.
A intenção é aprovar a técnica para pessoas com obesidade
de grau 1 (índice de massa corpórea entre 30 e 35, que antes
não seria indicação cirúrgica),
pacientes com risco cirúrgico
elevado por doenças associadas, casos de alterações cirúrgicas necessárias e, por último,
para pacientes que preferem
fazer essa cirurgia.
Para sustentar a proposta de
consenso com as novas indicações e a regulamentação da técnica, o cirurgião Josemberg
Marins Campos, professor da
Universidade Federal de Pernambuco, fez um levantamento sobre a cirurgia no Brasil.
De acordo com a pesquisa,
que será divulgada hoje, nos últimos quatro anos, 35 cirurgiões já realizaram, de forma
experimental, a gastrectomia
vertical em 2.123 pacientes que
não eram superobesos.
Desse total, 24% disseram
que realizaram a gastrectomia
por necessidade no momento
da operação (ao descobrir algum problema após o início do
procedimento), 18% afirmaram
tê-la feito em pacientes com
risco elevado para outras cirurgias, 17% a fizeram em pessoas
com IMC entre 30 e 35 e 13%
seguiram a escolha do paciente.
Resultados
Como se trata de um procedimento novo, o levantamento
nacional não conseguiu avaliar
os resultados a longo prazo da
cirurgia nos pacientes.
Mas, segundo Campos, apenas 16 médicos relataram ter tido algum tipo de intercorrência
após o procedimento. Não houve relato de morte.
A intercorrência mais comum foi o aparecimento de fístola (vazamento por causa do
grampeamento do estômago),
seguida de refluxo gástrico nos
primeiros três meses depois da
cirurgia, e da recuperação de
parte do peso perdido.
Marcos Leão Vilas-Boas diz
que muitos pacientes que procuram a cirurgia não querem
perder tanto peso, por isso ela
se torna uma boa alternativa.
Banalização
O endocrinologista Márcio
Mancini, presidente da Abeso
(Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e da Síndrome Metabólica), diz que o
procedimento é eficiente, mas
teme que aprová-lo para pessoas com IMC igual a 30 seja
uma banalização da cirurgia.
Para ele, a indicação cirúrgica nesses casos deve acontecer
só para pessoas com outras
doenças associadas.
"Uma pessoa com IMC igual
a 30 está com 12, 15 quilos acima do peso. É preciso tomar
cuidado com a indicação, senão
muitas pessoas com esse peso
lançarão mão desse artifício para emagrecer rapidamente em
vez de fazer dieta e exercícios."
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