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Tem pai que é mãe
Um estudo inédito realizado com pais de primeira viagem mostra que a produção de ocitocina , hormônio ligado à maternidade e ao parto, também dispara em homens mais envolvidos com seus bebês
IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO
Pela primeira vez, um estudo mostrou o papel do hormônio ocitocina na criação
de vínculos afetivos entre o
pai e o filho recém-nascido.
Essa substância já é conhecida por estimular as
contrações uterinas no trabalho de parto, a ejeção do leite
na amamentação e a criação
de laços entre mãe e bebê.
Mas a nova pesquisa, publicada no periódico "Biological Psychiatry", avaliou o
efeitos do hormônio da maternidade em homens que
eram pais pela primeira vez.
As conclusões são estimulantes para essa geração de
homens que participa mais
na criação dos filhos.
SEM DAR DE MAMAR
Os pesquisadores descobriram que, embora a lactação seja um poderoso estímulo à produção de ocitocina, não é preciso dar o peito
para que isso ocorra.
Os níveis de hormônio foram medidos nos 160 participantes do estudo (80 casais)
seis semanas após o nascimento do bebê e logo após
ele completar seis meses.
Constatou-se que a concentração de ocitocina nos
homens era igual à das mães
de seus filhos. Isso sugere,
segundo os pesquisadores,
que os mecanismos que regulam os níveis do hormônio
também estão ligados ao relacionamento do casal.
Além disso, o estudo mostrou uma forte associação entre os níveis de ocitocina e a
capacidade paterna de se relacionar com seu bebê.
Não se sabe se o aumento
de hormônio é causa ou efeito do comportamento. Mas
foi verificada a relação entre
a ocitocina e as atitudes dos
pais com as crianças.
Elas são diferentes para
pais e mães. Nelas, troca afetuosa de olhares, carinhos e
palavras maternais são os
comportamentos associados
ao aumento da ocitocina.
Nos pais, a alta do hormônio ocorre quando ele estimula o filho -por exemplo,
mostrando objetos ou fazendo com que agarre sua mão.
"Isso é lindo. Mostra que a
ocitocina é quase um medidor biológico da capacidade
de um homem permanecer
cuidando de sua família", diz
a endocrinologista Vânia Assaly, membro da International Hormone Society.
O endocrinologista Luís
Eduardo Calliari, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, conta que
alguns estudos em animais já
indicavam algo semelhante.
Foram observados dois tipos de ratos: um que cuidava
de sua prole, "constituía família", e outro que abandonava a fêmea depois do acasalamento. Os animais fiéis
tinham concentrações de
ocitocina bem maiores do
que as dos ratos canalhas.
CAUSA OU EFEITO?
"Teoricamente, [o hormônio] pode estar relacionado
ao envolvimento do pai.
Mas,como em outros estudos
sobre ocitocina e comportamento humano, esse não é
conclusivo. Não dá para saber se o aumento da substância é causa ou efeito do comportamento", diz Calliari.
Vários estudos feitos com
o hormônio (leia acima) sugerem que ele age como modulador do comportamento.
O aumento da ocitocina deixa a pessoa mais generosa,
compreensiva, amorosa.
Calliari pondera: "Isso pode indicar que vale a pena
deixar o pai mais perto do recém-nascido, para facilitar a
criação de vínculos".
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