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Cardiopatas têm 3 vezes mais risco de sofrer depressão
Nos EUA, cardiologistas são orientados a investigar paciente e a encaminhá-lo a profissionais de saúde mental, se necessário
Depressivos tendem a não tomar medicamentos para o coração e a não seguir as mudanças de estilo de vida
propostas pelos médicos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cardiologistas devem investigar os sinais de depressão em
seus pacientes, medicá-los ou
encaminhá-los a profissionais
de saúde mental. Essa é a nova
orientação da Associação Americana do Coração, publicada
na revista "Circulation". A medida também será adotada no
Brasil, segundo a Sociedade
Brasileira de Cardiologia.
A decisão vem amparada em
novos estudos que mostram
que pessoas que sofreram infartos ou que já foram hospitalizadas por problemas no coração têm até três vezes mais
chances de desenvolver depressão do que a população em
geral. No entanto, apenas metade dos cardiologistas tratam
seus pacientes de depressão.
Os autores do artigo publicado na "Circulation" alertam
que a depressão pode piorar os
prognósticos e deteriorar a
qualidade de vida dos pacientes
cardíacos. Os depressivos tendem a deixar de tomar medicações para o controle do risco
cardiovascular e a não seguir
mudanças de estilo de vida recomendadas, como dieta equilibrada e exercícios físicos.
"Penso que, ao cuidarmos da
depressão, poderemos reduzir
consideravelmente o sofrimento desses pacientes e melhorar
o resultado dos tratamentos",
afirmou à Folha Erika Froelicher, professora na Universidade da Califórnia (EUA) e
uma das autoras do artigo.
A partir de agora, a recomendação é que cardiologistas façam ao menos duas perguntas
aos seus pacientes: nas duas últimas semanas, você teve algum interesse ou prazer em fazer coisas? Você se sente fraco,
deprimido ou sem esperança?
Se o paciente responder sim
para uma ou para ambas as
questões, os médicos devem
utilizar um questionário maior,
com nove questões, para determinar o grau da depressão.
Segundo a cardiologista Ieda
Liguori, da unidade coronariana do HCor (Hospital do Coração), é fundamental medicar o
paciente depressivo, mas, ao
mesmo tempo, a escolha do antidepressivo deve ser criteriosa
para que o remédio não interfira na ação de outras drogas.
Ainda é comum a depressão
passar despercebida nos consultórios dos cardiologistas,
avalia Liguori. "Quando o paciente não melhora, quando
não consegue controlar a hipertensão, por exemplo, o médico pensa que houve falência
da medicação. Mas o problema
pode ser depressão. Se não for
controlada, ele não só não melhora como pode piorar."
"A pessoa com depressão não
consegue parar de fumar, não
faz dieta, dificilmente faz atividade física e tende a tomar as
medicações recomendadas pelo médico de maneira irregular", explica o psiquiatra Renério Fráguas Júnior, do Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
Doença coronariana
Segundo Fráguas Júnior, estudos mostram que a depressão
aumenta em 80% o risco para
doença coronariana e suas
complicações. "Ainda assim, a
associação [americana de cardiologia] sempre foi muito cautelosa [em reconhecer a ligação]. Mas chegou um momento
em que, se não fizesse isso, seria repreendida por omissão."
O psiquiatra José Carlos Zepellini diz que tem percebido
"com muita freqüência" pacientes deprimidos desenvolvendo doenças cardíacas. "Tanto que, quando recebo um caso
novo de depressão, logo encaminho para o cardiologista para uma avaliação. Até em jovens tenho notado isso."
Para o cardiologista do InCor
(Instituto do Coração) Protásio
Lemos da Luz, é importante
que o médico atente para o fato
de que a depressão pode se manifestar de diversas maneiras,
mas que, antes de mais nada, é
preciso excluir a possibilidade
de uma doença orgânica -como um hipotireoidismo ou um
câncer- que possa ser confundida com depressão.
Ele também explica que não
basta apenas a indicação de antidepressivos. "Não existe pílula mágica. Às vezes, é preciso
um trabalho psicológico para
tratar as causas da depressão."
O psiquiatra Fráguas Júnior
reforça: "Tem que acabar com
aquela crença de que a pessoa
pode vencer a depressão com a
força de vontade. Isso vale se
ela não está com transtorno depressivo. Se ela estiver [com o
transtorno], é justamente nesse momento que a força de vontade não dá mais conta."
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