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Inca muda posição sobre próstata
Diretor-geral da instituição reconhece "erro" em nota que desaconselhava realização de exames
Comunicado divulgado em 14/11 provocou críticas de especialistas e da Sociedade Brasileira de Urologia, que defendem testes de rotina
FERNANDA BASSETTE
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Inca (Instituto Nacional de
Câncer) voltou atrás na decisão
de desaconselhar os exames de
toque retal e de dosagem de
PSA como rotina para diagnóstico precoce de câncer de próstata. De acordo com Luiz Antônio Santini, diretor-geral da
instituição, a nota divulgada no
dia 14 de novembro desaconselhando os dois exames como
rotina e os recomendando apenas para quem já apresenta sintomas da doença ou tem histórico familiar estava errada.
A orientação foi criticada por
urologistas e pela Sociedade
Brasileira de Urologia, que disse que "esperar a ocorrência de
sintomas para procurar cuidados médicos pode fazer com
que o câncer de próstata esteja
em estágio avançado, com impossibilidade de cura".
Santini disse que o Inca não é
contrário aos exames rotineiros. "A nota foi um erro. Tenho
absoluta consciência do estrago que aquela afirmação causou
à população em geral. Aquele
não é o pensamento do Inca."
De acordo com Santini, a nota surgiu de uma "má interpretação" de uma discussão técnica e científica a respeito da importância do rastreamento populacional para detecção precoce do câncer de próstata e a
redução da mortalidade.
"Uma coisa é você dizer que,
como política de saúde pública,
o rastreamento não se aplica
porque não está comprovada a
redução da mortalidade. Outra
coisa é tirar uma conclusão
precipitada e afirmar que, por
causa disso, os exames não são
mais indicados", afirmou.
Santini acrescentou também
que nunca foi política do Inca
desaconselhar nenhum tipo de
exame preventivo. "É evidente
que desaconselhar os homens a
fazer o exame preventivo vai
desestimulá-los a procurar o
médico espontaneamente. Os
homens devem continuar fazendo o exame de rotina periodicamente. Essa é a recomendação médica atual", disse.
Rastreamento
Santini reafirma, no entanto,
que o Inca não recomenda o
reastreamento dos pacientes,
como forma de política de saúde pública. "O rastreamento
acontece quando você convoca
todos os homens a comparecer
ao posto de saúde para fazer o
exame. É como um mutirão. Isso não vamos fazer."
O diretor-geral disse ainda
que a obrigação do Inca é garantir o acesso de todos os pacientes ao médico, aos exames
e ao tratamento, independente
do diagnóstico da doença.
"A partir do diagnóstico, a
decisão de fazer ou não o tratamento deve ser tomada entre
médico e paciente. Não cabe ao
Inca proibir isso", declarou.
Estados Unidos
Alinhada com o primeiro comunicado divulgado pela instituição brasileira, a American
Cancer Society (principal organização não-governamental de
combate ao câncer nos Estados
Unidos) deve mudar, nos próximos dois anos, sua recomendação no sentido de diminuir a
quantidade de exames para detecção precoce de tumores.
Segundo Alessandra Durstine, diretora da entidade para a
América Latina, os exames, feitos aos milhares nos EUA,
identificam muitos tumores
que nunca seriam diagnosticados e com os quais as pessoas
viveriam muitos anos.
"O teste detecta o tumor, mas
não se sabe se ele é maligno",
disse Durstine à Folha, em encontro com jornalistas no México. "E, quando descobre que
tem um câncer, o paciente quer
ser tratado, muitas vezes com
procedimentos invasivos."
Diagnóstico precoce
Dados de 2000 a 2006 do
Hospital A.C. Camargo mostram que a detecção dos casos
de câncer de próstata tem ocorrido de forma cada vez mais
precoce e que o número de
mortes causadas pela doença
tem caído. O levantamento foi
feito a pedido da Folha.
O oncologista Gustavo Cardoso Guimarães, especialista
em câncer urológico no hospital, ressalta que os dados não
podem ser extrapolados para a
população geral, mas condizem
com o que os profissionais observam na prática. "Estamos
operando mais homens na faixa dos 50 a 60 anos e diminuindo a mortalidade", afirma. "Há
claramente uma vantagem no
diagnóstico precoce."
Em 2000, foram registrados
no hospital 157 novos casos,
dos quais quase um terço (50)
já estavam num estágio avançado da doença. Em 2006, dos
256 casos, um quinto (53) estava numa fase avançada. A mortalidade passou de 16 casos, em
2000, para dois, em 2006.
Guimarães pondera que dados que relacionem o rastreamento populacional a uma
queda na mortalidade por câncer de próstata são realmente
inconclusivos. Ele cita um estudo divulgado em agosto no
"Annals of Internal Medicine"
-os pesquisadores identificaram 390 artigos potencialmente relevantes na área, mas
constataram que apenas três
atendiam aos critérios necessários. Com base nisso, concluíram que não há dados suficientes nem a favor nem contra
o rastreamento.
Entretanto, diz Guimarães,
já foi constatado que a mortalidade decorrente da doença tem
caído nos EUA desde a metade
dos anos 1990 -a dosagem de
PSA começou a ser feita no
meio da década de 80.
"Não podemos dizer que isso
é fruto só do diagnóstico precoce, já que, nesse período, também houve uma melhora dos
métodos terapêuticos", diz.
(Colaborou BEATRIZ PERES, que viajou ao México a convite da Pfizer)
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