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Alcoolismo nas mulheres é herança materna, diz estudo
Ao menos uma em cada cinco alcoólatras é filha de
outra dependente de bebida, afirma pesquisadora
Entre elas, transmissão
de comportamento em
família é determinante
no desenvolvimento
vício, aponta trabalho
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
O alcoolismo pode ser passado de mãe para filha, de
acordo com a psicóloga Ana
Beatriz Pedriali, autora do livro recém-lançado "Um Passado que Vive -Transmissão
Familiar do Alcoolismo Feminino" (Rosea Nigra, 152
págs., R$ 35).
A pesquisadora acompanhou 62 mulheres alcoólatras e não alcoólatras na sua
tese de doutorado e concluiu
que, além do fator genético, o
comportamento e as relações
familiares são determinantes
para o vício.
Entre as alcoólatras, pelo
menos uma em cada cinco
era filha de uma mulher também viciada em álcool.
"Há uma transmissão do
comportamento, da violência e dos conflitos. Não há registros desse fenômeno em
homens", diz Pedriali.
A maioria das mulheres
dependentes tinha uma relação conflituosa com mães e
avós. "Elas reproduzem o
mesmo comportamento com
as filhas. São mulheres que
aprendem a resolver problemas bebendo."
O trabalho foi desenvolvido no IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
DIFERENÇAS
A genética é responsável
por 50% a 60% da tendência
ao alcoolismo tanto em mulheres quanto em homens,
segundo Patricia Hochgraf,
coordenadora do Programa
Mulher Dependente Química
do IPq.
Mas as semelhanças entre
os sexos param por aí. "A
mulher é mais vulnerável e
pode ficar viciada mais rapidamente", afirma a psicóloga Ilana Pinsky, vice-presidente da Abead (associação
para estudos do álcool e outras drogas).
Os hábitos que acompanham a dependência também diferem. Ao contrário
dos homens, que bebem em
grupo e em público, elas bebem mais sozinhas.
"É um vício escondido. Por
isso, o alcoolismo feminino
tem menor visibilidade", diz
o psiquiatra Marcelo Santos
Cruz, da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro).
De acordo com a enfermeira Márcia Fonsi Elbreder,
doutoranda em psiquiatria
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), elas têm
mais dificuldade em assumir
o problema, procurar ajuda
e, quando procuram, desistem do tratamento mais fácil.
Para chegar à conclusão,
ela acompanhou, em sua tese, 1.051 homens e mulheres.
"Há obstáculos morais e estruturais. Ainda há muito
preconceito. Essas mulheres
são mal vistas. Há poucos
ambulatórios e muitos não
estão preparados para receber mulheres dependentes."
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