São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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Alcoolismo nas mulheres é herança materna, diz estudo

Ao menos uma em cada cinco alcoólatras é filha de outra dependente de bebida, afirma pesquisadora

Entre elas, transmissão de comportamento em família é determinante no desenvolvimento vício, aponta trabalho

JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

O alcoolismo pode ser passado de mãe para filha, de acordo com a psicóloga Ana Beatriz Pedriali, autora do livro recém-lançado "Um Passado que Vive -Transmissão Familiar do Alcoolismo Feminino" (Rosea Nigra, 152 págs., R$ 35).
A pesquisadora acompanhou 62 mulheres alcoólatras e não alcoólatras na sua tese de doutorado e concluiu que, além do fator genético, o comportamento e as relações familiares são determinantes para o vício.
Entre as alcoólatras, pelo menos uma em cada cinco era filha de uma mulher também viciada em álcool.
"Há uma transmissão do comportamento, da violência e dos conflitos. Não há registros desse fenômeno em homens", diz Pedriali.
A maioria das mulheres dependentes tinha uma relação conflituosa com mães e avós. "Elas reproduzem o mesmo comportamento com as filhas. São mulheres que aprendem a resolver problemas bebendo."
O trabalho foi desenvolvido no IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo.

DIFERENÇAS
A genética é responsável por 50% a 60% da tendência ao alcoolismo tanto em mulheres quanto em homens, segundo Patricia Hochgraf, coordenadora do Programa Mulher Dependente Química do IPq.
Mas as semelhanças entre os sexos param por aí. "A mulher é mais vulnerável e pode ficar viciada mais rapidamente", afirma a psicóloga Ilana Pinsky, vice-presidente da Abead (associação para estudos do álcool e outras drogas).
Os hábitos que acompanham a dependência também diferem. Ao contrário dos homens, que bebem em grupo e em público, elas bebem mais sozinhas.
"É um vício escondido. Por isso, o alcoolismo feminino tem menor visibilidade", diz o psiquiatra Marcelo Santos Cruz, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
De acordo com a enfermeira Márcia Fonsi Elbreder, doutoranda em psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), elas têm mais dificuldade em assumir o problema, procurar ajuda e, quando procuram, desistem do tratamento mais fácil.
Para chegar à conclusão, ela acompanhou, em sua tese, 1.051 homens e mulheres. "Há obstáculos morais e estruturais. Ainda há muito preconceito. Essas mulheres são mal vistas. Há poucos ambulatórios e muitos não estão preparados para receber mulheres dependentes."


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