São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ozônio na berlinda

Mesmo sem regulamentação no país, uso terapêutico do gás é feito por médicos; falta respaldo científico, para Anvisa e Conselho Federal de Medicina

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Uma técnica que usa gás ozônio contra infecções, inflamações e dor está criando polêmica no país. Ao menos 200 médicos estão convencidos da sua eficácia e a aplicam em várias doenças.
Mas o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) argumentam que o método, chamado ozonioterapia, não tem amparo científico e, portanto, não pode ser regulamentado.
Nesta semana, um juiz de São Paulo concedeu liminar autorizando um paciente com câncer de um hospital da capital a receber ozonioterapia no peritônio (membrana que reveste as paredes do abdome), como parte do tratamento contra dor.
Há vários estudos na literatura mundial mostrando a eficácia da ozonioterapia- embora a maioria não seja controlada e tenha baixo grau de evidência científica. A terapia é reconhecida pelos sistemas de saúde de países como Itália, Espanha, Alemanha, Rússia e Cuba.
Os defensores dizem que o método não prospera no país porque contraria interesses da indústria. "Ozônio não é patenteado. Você não engarrafa e vende na farmácia", diz a médica Emília Serra, diretora da Aboz (Associação Brasileira de Ozonioterapia), que tenta há cinco anos regulamentar a prática no país.
O ozônio medicinal pode ser aplicado na corrente sanguínea -na veia ou no reto- ou diretamente na pele (para tratar feridas). Ele estimula a circulação e a oxigenação de tecidos, com funções bactericida, anti-inflamatória, imunológica e analgésica, segundo Emília.
No Brasil, várias instituições estão pesquisando a técnica. Em 2010, a Universidade de São Paulo, por exemplo, testou a ozonioterapia em bactérias hospitalares multirresistentes a antibióticos. Com apenas cinco minutos de exposição ao ozônio, dez delas foram eliminadas, inclusive a superbactéria KPC, que atingiu 13 Estados e matou ao menos 20 pessoas.
Segundo o médico imunologista Glacus de Sousa Brito, pesquisador responsável pelo ensaio clínico da USP, outras três linhas de projetos de pesquisa com ozonioterapia estão em andamento.
Uma delas propõe o tratamento de feridas infectadas (pé diabético, por exemplo). A outra vai usar o ozônio para desinfetar ambientes hospitalares. A terceira tratará, com o gás, pessoas com infecção hospitalar.
O infectologista Ésper Kallas, professor da USP, diz que, embora os estudos pareçam promissores, é preciso repeti-los em outros centros, para verificar se os resultados permanecem favoráveis. "É necessário provar a reprodutibilidade para que a gente possa empregar no dia a dia", afirma ele.

MINISTÉRIO
No fim do ano passado, a ozonioterapia entrou na pauta do Ministério da Saúde, durante uma audiência pública que recolheu sugestões sobre a incorporação de novas tecnologias no SUS, para o tratamento de feridas.
A Aboz apresentou vários estudos internacionais defendendo que o uso da ozonioterapia poderia reduzir em até 25% os custos do SUS com o tratamento de feridas crônicas e em 80% a taxa de amputação de membros de pacientes com gangrena provocada pelo diabetes.


Próximo Texto: Foco: Em Londres, sorvete de leite humano vira sucesso instantâneo de vendas
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.