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Só 1 em cada 5 cardiopatas flagra doença em check-up
Estudo com 13 mil pessoas mostra que metade descobre o problema avançado
Doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte no país e no mundo; exames anuais devem ser feitos a partir dos 55 anos
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Apenas 19% dos portadores
de doenças cardíacas descobrem que têm o problema durante exames de rotina antes de
os sintomas aparecerem -normalmente, em situações extremas como o infarto.
Isso é o que comprovou um
levantamento feito por pesquisadores do Northwest Cardiovascular Institute (EUA) com
mais de 13 mil pessoas (homens
e mulheres com mais de 65
anos), publicado na edição de
maio do "International Journal
of Clinical Practice".
Entre os entrevistados que
apresentavam problemas cardiovasculares (como angina,
insuficiência cardíaca ou que
haviam sido submetidos a procedimentos como angioplastia
ou ponte de safena), quase a
metade (48%) só identificou
sua condição ao sofrer sintomas como dores fortes ou mesmo um ataque cardíaco.
Cerca de 15% descobriram o
problema durante o tratamento de outras doenças, em consultas com endocrinologistas
ou neurologistas, por exemplo.
No caso dos diabéticos, grupo
considerado de alto risco para
doenças cardiovasculares porque a taxa elevada de glicose no
sangue predispõe a infartos e
derrames, 54% dos entrevistados foram diagnosticados após
sintomas e 22% enquanto tratavam outra doença.
Normalmente, a doença cardiovascular é assintomática.
Quando os primeiros sinais
surgem, o problema já está em
estágio avançado.
Justamente pela falta de sintomas, a primeira estratégia
para detectar quem tem riscos
de adoecer é avaliar a presença
de fatores de risco (tabagismo,
hipertensão, altos níveis de colesterol, diabetes, obesidade e
sedentarismo), além do histórico familiar.
Mas os especialistas concordam que a maior parte das pessoas não conhece bem esses fatores e não costuma se submeter a exames de rotina. "Os efeitos só vão aparecer tardiamente", diz Marcus Bolívar Malachias, diretor clínico do Instituto de Hipertensão Arterial de Minas Gerais.
"O problema é que o fato de
não sentir nada não significa
que a pessoa não tenha nada",
afirma José Carlos Nicolau, diretor da unidade clínica de coronariopatia aguda do Instituto
do Coração, em São Paulo.
Situação pior
"No Brasil a situação deve ser
pior", estima o cardiologista
Carlos Scherr, da Universidade
Gama Filho, no Rio de Janeiro.
"Há muita desinformação, as
pessoas confundem os sintomas com outras doenças e muitos médicos não sabem diagnosticar direito", diz ele.
De modo geral, pessoas que
não têm nenhum fator de risco
nem histórico familiar devem
fazer uma avaliação anual a
partir dos 55 anos no caso dos
homens e dos 60, nas mulheres.
Alguns médicos acreditam que
o acompanhamento deve ser
ainda mais cedo. "Recomendo
check-ups anuais a partir dos
40 ou 50 anos", diz Nicolau.
Quando há na família algum
parente que sofreu um infarto
ou morte súbita antes dos 55
anos (em homens) ou dos 65
(no caso das mulheres), o ideal
seria começar um programa de
prevenção ainda na infância.
"Nesses casos, desde os três
anos de idade a criança deveria
ser estimulada a ter uma alimentação adequada, praticar
atividade física e controlar o
peso", diz Scherr.
Essas pessoas também precisam monitorar mais cuidadosamente a pressão sanguínea e
os níveis de colesterol.
Hábitos saudáveis
A adoção de hábitos saudáveis como não fumar, controlar
o peso e praticar atividade física regularmente deveria ser regra, independentemente da
presença de fatores de risco e
de histórico familiar. "Mudar a
realidade envolve conscientização e educação, pois mesmo
nas classes mais altas há muita
desinformação", diz Marcos
Knobel, coordenador da Unidade Coronariana do hospital
Albert Einstein, em São Paulo.
As doenças cardiovasculares
são a primeira causa de morte
no mundo. No Brasil, matam
300 mil pessoas a cada ano.
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