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Paulistanos dormem cada vez menos
Pesquisa comparou médias de sono nas duas últimas décadas; consumo de remédios para dormir aumenta
Noite perdeu meia hora em 20 anos; perda é pior nos fins de semana, quando, em tese, se pode descansar mais
GABRIELA CUPANI
FERNANDA BASSETTE
DE SÃO PAULO
O paulistano está dormindo quase meia hora a menos
por noite do que há 20 anos.
Seu tempo médio na cama,
hoje, é de sete horas e meia
nos dias úteis e perto de oito
horas e meia aos domingos.
A taxa dos que usam drogas para dormir em no mínimo três noites por semana
subiu de 3,9% para 4,6% no
período. Aqui, as mulheres
são o dobro dos homens.
O estudo, que pode ser extrapolado para grandes cidades do país, mostra que a
pessoa tem mais dificuldade
em pegar no sono e em mantê-lo. Cresceram as queixas
de despertar precoce.
"São Paulo é uma cidade
"24 horas", cheia de atividades sociais e profissionais. Isso pode colaborar para a redução das horas de sono",
diz o biólogo Rogério Santos-Silva, da Universidade Federal de São Paulo, um dos autores do estudo, que será publicado na "Sleep Medicine".
A empresária Deborah Sollito Ventura, 47, trocou o dia
pela noite. "Comecei a levar
trabalho para casa porque
gosto da madrugada. Faz
anos que não durmo as oito
horas recomendadas", diz.
O pior é que a redução de
horas de sono é maior nos
fins de semana.
"Hoje, as pessoas vão ao
supermercado de madrugada. Há muitas opções de baladas, bares. Ninguém sacrifica o lazer, é mais fácil sacrificar o sono", diz o pneumologista Maurício Bagnato,
responsável pelo setor de
medicina do sono do Hospital Sírio-Libanês.
Não é possível "recuperar"
uma noite perdida, mas dormir mais no fim de semana
ajuda a compensar, em parte, o deficit, dizem os autores.
Para chegar ao resultado,
eles aplicaram questionários
que avaliavam as queixas
das pessoas em 1987, 1995 e
2007. Em cada etapa, foram
ouvidos mil voluntários com
idades entre 20 e 80 anos.
PROBLEMAS
A falta de sono crônica gera aumento da irritabilidade,
queda na concentração e alterações no metabolismo, como maior predisposição à
obesidade e ao diabetes. "A
privação do sono, mesmo de
poucos minutos, é suficiente
para alterar todo o relógio
biológico", diz Bagnato.
A pesquisa também constatou um aumento das queixas dos distúrbios de sono
em geral, como ronco, insônia, pesadelos, bruxismo e
sonambulismo.
"Problemas como a insônia estão muito ligados à ansiedade e as pessoas, de fato,
andam mais estressadas",
nota Santos-Silva.
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