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Preconceito ainda prejudica tratamento de tuberculose
Maioria acha que é necessário internar o doente, diz pesquisa
ANTÔNIO GOIS
DO RIO
Os 80 mil brasileiros que
pegam tuberculose no Brasil
a cada ano sofrem, além da
doença, estigma e preconceito de parte da sociedade.
O resultado é de uma pesquisa nacional encomendada pelo projeto Fundo Global
TB e realizada pelo instituto
DataUFF, da Universidade
Federal Fluminense.
O relatório completo será
apresentado no 4º Encontro
Nacional de Tuberculose,
que começa hoje, no Rio.
Segundo o levantamento,
as reações mais comuns das
pessoas próximas a alguém
que teve a doença foram separar talheres, pratos e objetos pessoais (34% das respostas) ou evitar falar, tocar e
se aproximar dela (30%).
Apenas 27% disseram que
nada mudou. A maioria
(53%) acredita ainda ser necessário internar alguém
com tuberculose.
A doença não é transmitida pelo uso dos mesmos pratos, talheres ou roupas.
Quando diagnosticada precocemente, não há necessidade de internação e, após 15
a 30 dias de tratamento, não
há risco de contágio.
"O preconceito ajuda a
afastar o paciente do posto
de saúde. Mas a tuberculose
é uma doença normal. Se não
houvesse tanto estigma e medo de se sentir isolada, a pessoa certamente cumpriria
melhor o tratamento", afirma a coordenadora do projeto, Cristina Boaretto.
Segundo ela, esse preconceito contribui para diminuir
a taxa de cura da doença no
Brasil. "Ainda temos um percentual de cerca de 70% de
cura, quando o desejável é
que essa taxa fosse de 95%."
Além do diagnóstico tardio, contribui para o percentual de cura aquém do desejado o fato de muitos pacientes abandonarem o tratamento no meio, após os sintomas terem desaparecido,
mas antes de completarem
seis meses de medicação.
Para Boaretto, uma das dificuldades para mobilizar a
população em relação à
doença é que ela demora
mais tempo para matar.
"A doença não gera aquela
situação imediata de que é
preciso fazer algo logo. Por
isso, muitos deixam de procurar o posto de saúde e, só
quando a situação está mais
grave, recorrem a hospitais."
A incidência da tuberculose é maior entre portadores
de HIV e pessoas expostas a
situações insalubres, como
domicílios em áreas de alta
densidade demográfica e
com pouca ventilação.
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