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Para estudo, mulher e homem têm sinais parecidos de infarto
Estudos anteriores afirmam que eles têm mais dor no peito e elas, sintomas mais difusos durante um ataque cardíaco
Pesquisa foi financiada pela Sociedade Cardiovascular do Canadá; participaram 305 pacientes que foram submetidas a angioplastias
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
As mulheres têm ou não sintomas diferentes quando sofrem um infarto? Alguns estudos dizem que os homens reclamam mais de dor no peito
que irradia para os braços, enquanto elas relatam sintomas
difusos, como náusea, dor nas
costas e sudorese. Essa diferença seria um dos motivos pelos
quais o infarto é detectado mais
tarde na ala feminina.
Porém, um novo estudo financiado pela Sociedade Cardiovascular do Canadá diz que
essa diferença de sintomas é
um mito. O trabalho avaliou
305 pacientes em procedimento de angioplastia e concluiu
que as mulheres têm sintomas
iguais aos dos homens durante
um ataque cardíaco.
A angioplastia utiliza um minúsculo balão inflado dentro da
artéria para desobstruir placas
de gordura e, inicialmente, produz sintomas semelhantes aos
do infarto, como dor no peito.
Isso ocorre porque o balão bloqueia brevemente o suprimento de sangue para o coração.
Segundo a enfermeira cardíaca Martha Mackay, pesquisadora do Instituto Canadense
de Pesquisas em Saúde e uma
das autoras do estudo, não houve diferença de gênero nas taxas de dor no peito ou outros
sintomas -como desconforto
nos braços, respiração acelerada, suor e náusea.
Ela diz que homens e mulheres sentem os mesmos sintomas, a diferença é que elas também podem apresentar outros
sinais, como tosse ou dor no
pescoço e na região da mandíbula. "Os sintomas clássicos
são igualmente comuns entre
homens e mulheres", diz.
Mas por que estudos anteriores mostraram diferenças de
sintomas? Para Mackay, um
dos fatores pode estar nas falhas de comunicação.
"Muitos profissionais das
unidades de emergência focam
em um menu limitado de sintomas e acabam perdendo alguns.
As mulheres precisam falar ao
médico sobre todos os sintomas, não somente sobre aquilo
que lhes é questionado."
Ela recomenda que médicos
e enfermeiras evitem formular
"questões fechadas" ao paciente. "Por exemplo, em vez de
perguntar apenas "você está
sentindo dor no peito?" [questão que normalmente leva a um
sim ou a um não], o profissional
deve perguntar sobre outros
sintomas que podem ajudá-lo a
fazer o diagnóstico."
Para o cardiologista Otávio
Gebara, diretor de cardiologia
do Hospital Santa Paula e um
dos autores do livro "Coração
de Mulher", embora interessante, o estudo canadense não
reproduz a realidade do infarto.
"Inflar a artéria com um balão
por alguns minutos não reproduz a biologia de um infarto."
O cardiologista Marcos Knobel, coordenador da unidade
coronariana do hospital Albert
Einstein, concorda que uma situação simulada do infarto, como a que ocorre na angioplastia, pode não representar a realidade. "Na vida real, há uma série de outros fatores que podem
enganar. Você acabou de comer
e sente um mal estar. Pode ser
uma dor típica de infarto, mas
você pode pensar que é uma
gastrite, uma má digestão. Ou
fez uma corrida e atribui a dor a
uma distensão muscular."
Já o cardiologista Sergio Timerman, do InCor (Instituto
do Coração), entende que a angioplastia reproduz "fielmente" os sintomas do infarto ao
provocar uma isquemia rápida
no vaso sanguíneo. "O trabalho
derruba o mito e mostra que
não existem diferenças entre os
sexos. Cerca de 75% a 85%
apresentam dor torácica como
sintoma predominante", diz.
Knobel também entende que
as dores de homens e mulheres
sejam as mesmas, mas mulheres tendem a relatá-las de forma diferente. "E as dores podem ser as mais variadas possíveis. Já vi gente infartando com
dor na mandíbula ou dor no punho esquerdo."
Para a médica Beth Abramson, porta-voz da "Heart and
Stroke Foundation" canadense, embora as mulheres possam
descrever suas dores de forma
diferente, o principal sintoma é
ainda a dor no peito. "A diferença é que a mulher demora mais
para acreditar que está tendo
um ataque cardíaco e adia a
procura por tratamento."
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