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95% dos pulmões para transplante são desperdiçados
Aproveitamento equivale a um terço da média de outros países; Brasil fez 53 transplantes pulmonares em 2008
Capacitação inadequada está entre as causas do desperdício; de 30% a 50% dos doentes na fila morrem sem receber o órgão
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Apenas 5% dos pulmões disponíveis para transplante no
Brasil são aproveitados. O número equivale a um terço da taxa média de aproveitamento
em outros centros do mundo
-que é em torno de 15%. Uma
das causas do desperdício é a
inadequada capacitação das
equipes em identificar e manter o potencial doador até a retirada do órgão.
Em 2008, o Brasil realizou 53
transplantes pulmonares. A demanda por esse tipo de tratamento no país é de quase sete
vezes isso, segundo dados da
ABTO (Associação Brasileira
de Transplante de Órgãos). Hoje, de 30% a 50% dos doentes
que estão em fila de espera
morrem sem receber o órgão.
O pulmão é o primeiro órgão
a se deteriorar no processo de
morte encefálica. Em geral, o
potencial doador necessita de
respiração artificial, que, muitas vezes, compromete a qualidade do órgão -que também fica sujeito à contaminação direta pelo ar, tanto no caso do doador quanto no do receptor.
Outro problema é a falta de
treinamento das equipes cirúrgicas que fazem a captação do
órgão. Por erros de avaliação do
potencial do doador ou por não
saber mantê-lo adequadamente até a retirada do pulmão,
muitos órgãos viáveis acabam
sendo inutilizados.
Para tentar melhorar esse
panorama no Estado de São
Paulo, o InCor (Instituto do
Coração), um dos principais
centros de transplante de pulmão do país, criou uma rede de
apoio à captação do órgão no
Estado, que prevê a capacitação
de médicos. O objetivo é aumentar em 20% o número de
transplantes realizados.
Segundo o cirurgião Fábio
Jatene, diretor do Programa de
Transplante de Pulmão do InCor, é comum a equipe receber
notificações de potenciais doadores no interior do Estado e,
quando chega ao hospital para
retirar o órgão, o pulmão já não
tem mais qualidade.
"Após a morte encefálica, o
pulmão fica mais sujeito a infecções. Há um acúmulo de líquidos que pode deteriorá-lo
rapidamente", explica.
Jatene afirma que uma equipe treinada pode usar recursos,
como a aspiração do líquido do
pulmão, que aumentam as
chances de preservação do órgão até a chegada da equipe de
captação. "No futuro teremos
pessoas no interior familiarizadas com a captação e não haverá mais necessidade de deslocar uma equipe da capital."
Para o médico Ben-Hur Ferraz Neto, vice-presidente da
ABTO, melhorar a qualidade da
captação em São Paulo e Porto
Alegre, onde estão os dois principais centros de transplante
de pulmão, é mais importante
do que treinar médicos no interior. "O número de doadores de
órgãos na capital tem aumentado nos últimos anos, mas isso
não tem se refletido no número
de pulmões viáveis."
Sobrevivência
A sobrevida média dos pacientes transplantados de pulmão é de 80% em um ano. Ao final de cinco anos, de 50% a 55%
dos pacientes continuam vivos.
Segundo Jatene, é preciso difundir entre os médicos que o
transplante deve ser considerado cada vez mais uma alternativa terapêutica em casos avançados de doença pulmonar obstrutiva crônica, enfisema e fibrose pulmonares, hipertensão
pulmonar e fibrose cística.
Hoje, por temer o risco de
morte da cirurgia, muitos médicos não indicam o transplante. Ao mesmo tempo, como são
poucos os centros brasileiros
que fazem o procedimento,
muitos pacientes não têm condições de se estabelecerem em
outra cidade para o tratamento.
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