São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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USP desenvolve aparelhos auditivos de baixo custo

Modelo principal atende às normas do Ministério da Saúde e deverá custar R$ 255

Uma das próteses criadas foi testada em 20 pacientes durante dois anos e os resultados obtidos foram considerados satisfatórios

FERNANDA BASSETTE
RACHEL BOTELHO

DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores da Universidade de São Paulo desenvolveram quatro aparelhos auditivos de baixo custo que podem atender a maior parte da demanda do SUS. São modelos "genéricos" dos aparelhos retroauricular (usado atrás da orelha) e intracanal (encaixado dentro do canal auditivo). Além de mais baratas, as novas próteses têm tecnologia 100% nacional -os modelos atuais são importados.
O principal aparelho foi batizado de Manaus e deverá custar US$ 140,13 (cerca de R$ 255). É um modelo retroauricular, que precisa de menos manutenção e atende às tecnologias A e B (básica e intermediária), segundo os critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
O outro modelo, chamado de Rio de Janeiro, atende às mesmas tecnologias, mas é usado dentro do canal auditivo. Segundo os pesquisadores, juntos, os dois modelos conseguiriam atender 85% da demanda de próteses auditivas do SUS.
"Os modelos retroauriculares têm duas vantagens: apresentam menor índice de quebra e têm o circuito eletrônico mais potente. Mas muitos pacientes são vaidosos e não gostam de deixar o aparelho à mostra. Por isso, fizemos também os de uso interno", explica o engenheiro eletrônico Sílvio Penteado, do Laboratório de Investigações Acústicas da USP, que desenvolveu as próteses.
De acordo com Penteado, os aparelhos de tecnologia A e B poderão ser usados por pessoas com perdas auditivas discretas, moderadas e moderadas severas. O ganho auditivo é de 62 decibéis. "Com mais oito decibéis eles poderão ser usados em pacientes com perda auditiva severa", afirma.
Os testes com o Manaus foram realizados ao longo de dois anos com 20 portadores de deficiência auditiva. Eles seguiram protocolos internacionais e os resultados foram considerados satisfatórios.
"Os aparelhos que usamos são importados, e o processo de entrada deles no país é regulamentado e, por isso, um pouco lento", afirma a otorrinolaringologista Mônica Menon, do Hospital Sírio-Libanês.
Por outro lado, Menon acredita que o visual do Manaus pode não agradar a todos. "No aspecto da estética ele fica devendo um pouco, e esse é um ponto que preocupa pacientes de todos os níveis socioeconômicos. Mas para quem priorizar a função auditiva, o preço acessível do Manaus certamente será de grande ajuda", afirma.
Os pesquisadores da USP também desenvolveram aparelhos que atendem à tecnologia C (mais avançada). Um deles é retroauricular e o outro, intracanal. Cada um deles deverá custar US$ 172 (R$ 313).
Segundo a otorrinolaringologista Maria Cecília Martinelli, da Unifesp, o retroauricular é indicado para perdas severas e profundas. "Quanto maior o aparelho, mais potente", diz.
Uma prótese chega a custar, no varejo, até R$ 12 mil. Para os serviços credenciados pelo SUS, elas seriam vendidas por R$ 525 (de tecnologia A), R$ 700 (B) e R$ 1.100 (tecnologia C), segundo Penteado.
O Ministério da Saúde informou que conhece o aparelho criado pela USP. Reforçou, entretanto, que como o produto ainda não tem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não é possível sua utilização no país, seja na rede pública ou privada.


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