São Paulo, sábado, 27 de junho de 2009

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Vasectomia cresce entre os homens na faixa dos 40

Em 2000, esse grupo representava 19,4% do total; em 2008, índice era de 24,6%

Segundo especialistas, homens mais novos estão adiando a paternidade; sucesso na reversão da cirurgia varia de 30% a 75%

LARISSA GUIMARÃES
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A vasectomia tem crescido mais entre os homens de 40 anos, proporcionalmente, enquanto na faixa de 30 anos o número de cirurgias tem caído. É o que mostra um levantamento feito pelo Ministério da Saúde a pedido da Folha, com dados do SUS (Sistema Único de Saúde), levando em conta o período de 2000 a 2008.
Em 2000, os homens na faixa dos 30 anos representavam 63% das cirurgias de vasectomia. Em 2008, o índice caiu para aproximadamente 55%.
Entre os homens de 40 anos, os números mostram tendência inversa. No ano passado, os chamados quarentões eram 24,6% dos homens que se submeteram à cirurgia de esterilização -em 2000, eles representavam 19,4% do total.
De acordo com especialistas, a queda da participação dos mais novos entre os que fazem vasectomia está ligada ao adiamento da paternidade.
Por isso, o ideal é que para fazer o procedimento o homem tenha pelo menos 35 anos e casamento e situação econômica estável, afirma Fabio Pasqualotto, membro da comissão de andrologia da SBRH (Sociedade Brasileira de Reprodução Humana). "Existe gente jovem que procura [a vasectomia], mas cabe ao médico orientar a pessoa. O paciente tem que saber que o casamento pode acabar, que ele pode perder um dos filhos e aí se arrepender."
O crescimento da vasectomia entre os homens de idade mais adiantada mostra também a nova dinâmica da família brasileira, de acordo com o diretor de Ações Programáticas e Estratégicas em Saúde do ministério, José Luiz Telles. "As pessoas estão se divorciando e se casando mais. Isso influencia muito na decisão [de fazer a esterilização]", afirma.
O novo casamento é o motivo citado por "mais de 90%" dos pacientes que buscam a reversão da vasectomia, diz o urologista José Geraldo de Aguiar Faria Júnior, que declara ter realizado perto de mil cirurgias desse tipo em uma clínica especializada em reprodução humana em São Paulo.
As chances de sucesso na reversão dependem principalmente do tempo decorrido desde a vasectomia -quanto mais recente, melhor. Elas variam de 30% a 75%.
A lei brasileira estabelece que, para fazer a vasectomia, o paciente precisa ter pelo menos 25 anos ou já ter tido dois filhos. Da primeira consulta ao procedimento, é preciso também esperar dois meses para evitar arrependimento.
O urologista Rodolfo Borges dos Reis, da seção paulista da Sociedade Brasileira de Urologia, defende que a vasectomia é um procedimento do casal. "Quem tem que fazer é a pessoa que olha para a mulher e se enxerga com ela daqui a dez anos", afirma.

Crescimento
A disposição dos homens em participar de forma ativa do planejamento familiar registrou um boom nos últimos anos, segundo José Luiz Telles. "Mitos a respeito da cirurgia, como o de que a vasectomia altera a libido, tem caído."
Em 2000, o SUS registrou quase 1.700 cirurgias. No ano passado, cerca de 26 mil homens fizeram vasectomia.
O comerciante Ricardo Abdala, 42, está disposto a entrar para a estatística. Ele tomou a decisão após o nascimento da segunda filha, de nove meses.
"Quando nossa primeira filha nasceu, pensamos em parar a "produção" e até procurei informação sobre vasectomia. Mas, depois, resolvemos esperar e pensar mais sobre o assunto", conta.


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