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Médicos resistem a similares e genéricos
Especialistas de várias áreas duvidam da eficácia dos remédios mais baratos, campeões de vendas no Brasil
Hospitais de referência de São Paulo também não recomendam esses medicamentos, que são os mais usados no SUS
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Há mais de uma década no
mercado, os remédios similares e genéricos ainda enfrentam a resistência de médicos
e não são usados por hospitais de ponta como o Albert
Einstein, o Sírio-Libanês, o
Oswaldo Cruz e o São Luiz.
Esses medicamentos, líderes em vendas e os mais indicados no SUS, têm sua eficácia questionada por médicos
de várias áreas, que não os
receitam aos pacientes.
Ao mesmo tempo, como
lembra Gilberto de Nucci,
professor de farmacologia da
USP e da Unicamp, não existem estudos científicos que
justifiquem a desconfiança.
"Perdi a confiança nos genéricos", diz o professor aposentado de farmacologia e
clínica médica da USP Antonio Carlos Zanini.
"Se é um medicamento do
qual possa depender a vida,
eu não uso e não deixo ninguém em casa usar", diz.
TESTES
Zanini, que comandou a
vigilância sanitária nos anos
80, diz que a fiscalização é falha. Hoje, exige-se teste no licenciamento do genérico e,
daí para a frente, "ninguém
sabe o que ocorre", diz.
Para o professor, o órgão
deveria fazer testes de surpresa, criando alguma incerteza capaz de levar os laboratórios a manter a qualidade.
Mas a maioria dos médicos
concentra seus ataques nos
similares, já que muitos deles, ao contrário dos genéricos, não passaram por testes
de bioequivalência.
Esses testes provam que o
remédio é absorvido pelo organismo em igual quantidade e na mesma velocidade do
medicamento de referência.
Os similares respondem
por 65% das vendas no país.
Por causa dos preços mais
baixos, tornaram-se os mais
usados no SUS, segundo pesquisa da Escola Nacional de
Saúde Pública, da Fiocruz.
O Ministério da Saúde diz
que cumpre a lei de licitações, que privilegia o menor
preço. Alega que, até 2014,
todos os similares terão comprovada a bioequivalência.
"Eu não deixo meus pacientes usarem [os similares], não admito", afirma o
presidente da SBCM (Sociedade Brasileira de Clínica
Médica), Antonio Carlos Lopes, que é também professor
titular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Para ele, como os similares
não passam por esses testes
de bioequivalência, não são
confiáveis. Porém, quando
atende no hospital público,
Lopes diz não ter escolha. " É
a licitação que manda."
O infectologista Artur Timerman diz que evita prescrever antibióticos similares
porque, em algumas situações, o remédio (cloridrato
de ciprofloxacino) não funcionou. "Aconteceu tanto no
tratamento de infecção urinária quanto de gonorreia."
Na mesma toada vai João
Massud Filho, da Unifesp,
pesquisador na área de novos medicamentos: "Os similares são uma aberração. É
como a jabuticaba; só existem no Brasil".
Apesar da resistência, a
Anvisa e a Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais) afirmam
que esses medicamentos são
seguros e eficazes.
Por determinação legal, os
similares não são considerados "intercambiáveis" com
os medicamentos de referência, ou seja, não podem substituir os de marca, como
acontece com os genéricos.
De Nucci tem uma explicação singela para a resistência
dos colegas: "Pesquisas mostraram que 92% dos médicos
receberam brindes da indústria farmacêutica. E os outros
8% são mentirosos. Eu posso
dizer, porque sou médico".
Massud relativiza o argumento, lembrando que fabricantes de genéricos e similares fazem parte da indústria e
também distribuem benesses para médicos e bônus para farmácias.
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