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EUA indicam remédio para prevenir câncer de próstata
Usada para tratar calvície, finasterida reduz em 25% o risco de tumor maligno
Recomendação se apoia em estudo com 18.882 homens; especialistas se dividem sobre o uso da droga, que pode gerar disfunção sexual
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sociedade Americana de
Oncologia Clínica (Asco) e a Associação Americana de Urologia (AUA) divulgaram no dia 24
a primeira recomendação de
um remédio para a prevenção
do câncer de próstata.
A orientação prevê que homens saudáveis usem finasterida para prevenir esse tipo de
tumor -procedimento que a
Asco definiu como "quimioprevenção". O remédio já é utilizado atualmente no tratamento
da calvície e do crescimento benigno da próstata.
A recomendação tem como
base o PCPT (Prostate Cancer
Prevention Trial), estudo realizado nos Estados Unidos e no
Canadá com 18.882 homens
com idade acima de 55 anos e
sem sinal de câncer de próstata.
Durante sete anos, parte dos
participantes tomou finasterida e parte, placebo. Constatou-se que o uso do remédio reduziu em cerca de 25% o aparecimento do câncer.
O resultado, porém, foi
acompanhado de uma polêmica: aparentemente, os homens
que tomaram finasterida e tiveram câncer de próstata apresentavam tumores mais agressivos. Estudos posteriores
mostraram que, como esses
participantes tinham a próstata reduzida pela finasterida, era
mais fácil encontrar nas biópsias deles tumores agressivos.
Além disso, os pesquisadores
relataram que esses tumores
eram detectados antes no grupo que tomou o remédio do que
no grupo que recebeu placebo.
"O tempo mostrou que a finasterida deixa essas células
com uma aparência mais "feia",
mas é só uma alteração morfológica, elas não ficam mais
agressivas. Houve uma polêmica que dividiu os médicos, mas
ela vai acabar. Se a AUA adotou
essa recomendação, é porque
as evidências a favor da finasterida são muito fortes", avalia o
urologista Miguel Srougi, professor titular da USP.
Mas, para outros especialistas, ainda há algumas perguntas em aberto. "Uma delas é: a
finasterida só evita o câncer
mais leve, e não o mais agressivo? Outra: qual o resultado da
finasterida depois de sete anos?
Há indício de que, após esse período, a proteção diminua",
afirma Stênio de Cássio Zequi,
cirurgião pélvico do Hospital
do Câncer A.C.Camargo.
O urologista Carlos Eduardo
Corradi, chefe do departamento de uro-oncologia da SBU
(Sociedade Brasileira de Urologia), considera a recomendação
norte-americana precoce. "Estudos com o câncer de próstata
demoram muitos anos para
apresentar resultados e o PCPT
não teve a conclusão final ainda. A gente não sabe o que pode
acontecer a longo prazo."
Desvantagens
As entidades norte-americanas recomendam que homens
que já tomam finasterida e
aqueles que têm PSA total até 3
conversem com seus médicos
sobre os prós e contras de tomar o medicamento a longo
prazo. No Brasil, o PSA total é
considerado saudável até 2,5,
mas isso varia de acordo com
outros fatores, como o tamanho da próstata do paciente e o
índice de PSA livre.
Uma desvantagem do remédio é que ele pode gerar disfunção sexual e crescimento da
mama. De acordo com Zequi,
esses efeitos costumam atingir
cerca de 3% dos pacientes.
Para os especialistas ouvidos
pela Folha, o uso do medicamento deve ser indicado para
homens que integrem grupos
de risco. Ter um parente de primeiro grau com a doença eleva
em duas vezes o risco de desenvolver câncer de próstata.
Além disso, a incidência da
doença parece ser maior em
negros, de acordo com Srougi.
Ele ressalta que, atualmente,
os urologistas não têm à disposição nenhum outro método
preventivo para o câncer de
próstata. Há alguns anos, acreditou-se que o licopeno (substância que confere a cor vermelha do tomate), o selênio e a vitamina E teriam um efeito protetor, mas levantamentos recentes mostraram que ainda
não há evidências suficientes
nesse sentido.
Procurado pela reportagem,
o Inca (Instituto Nacional de
Câncer) respondeu, por meio
de sua assessoria de imprensa,
que não comenta pesquisas
que não tenham tido participação do corpo clínico do órgão.
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