São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2010

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Governo libera alimentos para atletas

Creatina e cafeína serão vendidas como suplementos, mas consumo é recomendado só para "profissionais", diz Anvisa

Substâncias, usadas para aumentar o desempenho e a resistência, também são associadas a problemas renais, taquicardia e insônia

Adriano Vizoni/Folha Imagem
Suplementos nutricionais consumidos por quem pretende ganhar mais massa muscular, à venda em loja no centro de São Paulo

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária decidiu liberar duas substâncias para o uso de atletas: a cafeína e a creatina. Hoje, são usadas apenas como medicamentos. A cafeína, apesar de estar em fórmulas de refrigerantes e alimentos, não podia ser vendida como suplemento específico para atletas. A creatina só foi liberada como remédio neste ano.
Agora, a partir da publicação da resolução no "Diário Oficial da União", as empresas poderão solicitar autorização para vender os dois produtos como alimentos, sem a necessidade de apresentação de receita.
A recomendação da agência é que apenas atletas profissionais os utilizem, porque as substâncias podem trazer riscos à saúde. Além disso, uma alimentação saudável é suficiente para um bom desempenho na atividade física.
Nessa categoria de "atletas profissionais" não se encaixam, por exemplo, pessoas que vão à academia três vezes por semana, segundo Maria Cecília Brito, diretora da agência. Na dúvida, a recomendação é procurar um médico ou nutricionista.
O suplemento de cafeína pode ser útil para aumentar a resistência em exercícios de longa duração. No entanto, pode causar insônia e taquicardia.
Já a creatina é um aminoácido presente nas carnes, que pode melhorar o desempenho muscular em provas de alta intensidade e curta duração, como corridas de 100 metros.
Há quem diga que a substância pode causar problemas renais. A médica Gianna Mastroianni Kirsztajn, da Sociedade Brasileira de Nefrologia, explica que a creatina é eliminada pelo rim. Se for consumida em excesso e a pessoa já apresentar algum problema renal, o órgão pode ficar sobrecarregado.
Já Bruno Gualano, pesquisador do Hospital das Clínicas e autor de estudos sobre a creatina, discorda. Segundo ele, pesquisas feitas com pessoas saudáveis e mesmo com diabetes ou doenças renais mostram que a substância não traz nenhum problema ao rim. Ele pondera, no entanto, que são necessários mais estudos para confirmar esses resultados.
As embalagens de creatina deverão conter uma advertência afirmando que o consumo não deve ser superior a três gramas por dia e que o produto não deve ser usado por crianças, gestantes, idosos ou pessoas doentes.

Outras regras
Além de autorizar a cafeína e a creatina, a Anvisa tirou da categoria de "alimentos para atletas" os aminoácidos de cadeia ramificada (conhecidos como BCAAs entre esportistas). Eles continuarão sendo vendidos, mas sem a indicação. Segundo a agência, não fornecem energia, como prometem, mas também não prejudicam a saúde.
A agência também decidiu que, daqui a 18 meses, todos os alimentos para atletas deverão trazer a advertência: "Este produto não substitui uma alimentação equilibrada e seu consumo deve ser orientado por nutricionista ou médico".
A medida vale até para as bebidas isotônicas. A endocrinologista Rosana Radominski, especialista em medicina esportiva, explica que a função dessas bebidas é repor sais e carboidratos, mas seu uso não é necessário para pessoas que praticam atividades físicas com até uma hora de duração. "Nada mais são do que soro caseiro com sabor", afirma a médica.
Na mesma regulamentação de alimentos para atletas, a Anvisa também permitiu a comercialização de "packs", pacotes que trazem tipos diferentes de suplementos alimentares.


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