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Parada cardíaca vai exigir resfriamento
Técnica que esfria o corpo para reduzir sequelas neurológicas causadas por falta de oxigênio vai ser padrão mundial
Em hospital paulistano,
30% dos pacientes que
foram submetidos ao
procedimento tiveram
alta sem nenhum dano
FERNANDA BASSETTE
DE SÃO PAULO
Resfriar o paciente a 32º C
durante 24 horas depois de
uma parada cardíaca será o
procedimento padrão em todo o mundo a partir de outubro, quando será atualizado
o consenso internacional de
emergências cardíacas.
A técnica, chamada hipotermia terapêutica, reduz a
temperatura corporal da pessoa em 5º C, para minimizar
sequelas neurológicas causadas por falta de oxigênio.
No Brasil, o procedimento
ainda é pouco difundido. É
aplicado eventualmente em
hospitais como Albert Einstein, InCor (Instituto do Coração) e Sírio-Libanês.
O Hospital Municipal Dr.
Moysés Deutsch, administrado pelo Albert Einstein, usa a
técnica há dois anos e alcançou resultados satisfatórios.
Dos 20 pacientes tratados
com o resfriamento, 30% receberam alta sem nenhuma
sequela neurológica e 50%
obtiveram boa recuperação
(o que inclui retomada total
da consciência).
É o caso de um jovem de 21
anos que teve uma parada
provocada por uma mistura
de cocaína e lança-perfume.
Após ter a circulação restabelecida, ele foi resfriado.
Permaneceu na UTI por mais
de dois meses, mas recebeu
alta quase sem sequelas.
"Sem o resfriamento, esse
seria um caso praticamente
perdido", diz a intensivista
Ana Helena Vicente Andrade, que cuidou do caso.
Os resultados costumam
ser bem piores sem o uso da
hipotermia: entre 60% e 90%
dos pacientes morrem logo
após a parada. Dos que sobrevivem, 80% ficam com sequelas neurológicas graves.
"A maioria que sai de uma
parada fica em estado vegetativo. Você recupera a circulação com o maior esforço,
mas a pessoa não tem consciência. É desanimador", diz
o cardiologista Antônio Cláudio Baruzzi, responsável pela
UTI do hospital.
Sérgio Timerman, diretor
do laboratório de treinamento e simulação em emergências cardiovasculares do InCor, diz que os resultados da
técnica são satisfatórios.
"Ter 30% de sobrevida
sem sequelas é um número
muito bom. E o resfriamento
é simples, barato e pode ser
feito em qualquer hospital."
COMO FUNCIONA
Depois de reanimar o paciente e restabelecer a circulação sanguínea, a pessoa é
coberta com bolsas de gelo
nas axilas, no pescoço e na
virilha, para que o corpo atinja a temperatura correta.
O paciente também recebe
soro fisiológico gelado. Um
termômetro instalado no
esôfago monitora a temperatura para que ela não caia
abaixo dos 30º C.
O frio reduz o metabolismo
cerebral em 30%, o que evita
a morte precoce das células.
"Mais importante do que resfriar o paciente é mantê-lo
dentro da temperatura segura", diz Timerman.
O resfriamento deve permanecer por 24 horas e a
temperatura normal é restabelecida gradualmente no
decorrer de 12 horas.
"A recuperação é contínua
ao longo dos meses, porque
as células vão se regenerando de forma lenta e progressiva", afirma Baruzzi.
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