São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2010

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Teens fazem mais cirurgias da obesidade


Adolescentes representam 5% das 30 mil reduções de estômago realizadas aqui; médicos divergem sobre indicação

Tendência é o aumento desse público, dizem especialistas; riscos do procedimento a longo prazo são ignorados

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A indicação de cirurgia para obesidade em adolescentes está crescendo no Brasil, mas ainda está longe de ser consenso entre especialistas.
Cinco por cento dessas operações já são feitas em menores de 20 anos. Em 2009, foram realizadas 30 mil cirurgias bariátricas no país, segundo Thomas Szego, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Explicam essa alta tanto o aumento da obesidade na população quanto o aperfeiçoamento das técnicas que tornaram o método mais seguro, de acordo com Szego.
Como a legislação brasileira só permite a cirurgia a partir dos 16, esse número poderia ser ainda maior.
Para uma parte dos especialistas, aumentar as indicações é uma tendência.
"Vamos discutir as diretrizes no próximo encontro brasileiro de endocrinologia pediátrica", conta Paulo César Alves da Silva, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Um dos pontos mais polêmicos sobre a cirurgia em menores de 20 anos é a falta de dados sobre os efeitos a longo prazo. "Isso a gente não sabe, mas sabemos dos riscos da obesidade. A cirurgia é uma opção que vale a pena", afirma Silva.
As normas brasileiras determinam que a cirurgia só pode ser feita em casos de Índice de Massa Corporal acima de 40 e com a presença de doenças associadas como diabetes, hipertensão etc.
A equipe médica e os pais ou responsáveis devem assinar um documento declarando que concordam com o procedimento.
Para Arthur Belarmino Garrido Jr., coordenador da Unidade de Cirurgia da Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, os riscos da cirurgia em adolescentes são similares aos dos adultos.
Porém, há médicos que apontam para características específicas dessa faixa etária que complicam o tratamento cirúrgico da obesidade.

DOENÇA CRÔNICA
"A pessoa ainda está em fase de crescimento e podemos estar trocando uma doença crônica [a obesidade] por outra [desnutrição], sem saber o que vai acontecer mais tarde", pondera Rosana Radominski, presidente da Abeso (Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e da Síndrome Metabólica).
"Mutilar o aparelho digestivo em quem está em crescimento não é bom. Antes de partir para a cirurgia, eu tentaria o tratamento clínico para emagrecer pelo menos duas vezes", afirma o pediatria e nutrólogo Fábio Ancona Lopes, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
As questões psicológicas de uma operação que promove o emagrecimento ultrarrápido são ainda mais importantes na adolescência.
"Essa é a idade em que se manifestam vários distúrbios psiquiátricos, especialmente os transtornos alimentares. É perigoso reduzir o estômago se o problema de base não for tratado", analisa o psiquiatra Carlos Henrique Rodrigues dos Santos, do Grupo de Doenças Afetivas do Hospital das Clínicas de São Paulo.


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