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Antipsicótico faz criança engordar 8 kg em 12 semanas
Droga é indicada para tratar transtornos psiquiátricos, entre eles, a esquizofrenia, o autismo e a hiperatividade
Além do ganho de peso, as crianças também registram aumento importante dos níveis de colesterol, insulina e triglicérides no sangue
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Crianças e adolescentes estão ficando obesos ou com sobrepeso em razão do uso de antipsicóticos. O alerta vem de
dois estudos, um deles financiado pelo Instituto de Saúde
Mental dos EUA, que apontam
ganho de peso de até 8,5 kg com
12 semanas de tratamento.
Os chamados antipsicóticos
atípicos (drogas que modificam
a atividade das células nervosas) são indicados para tratar
vários transtornos psiquiátricos, entre eles, a esquizofrenia,
o autismo e o transtorno bipolar com ou sem hiperatividade.
Um dos trabalhos, publicado
ontem no "Jama" (jornal da Associação Médica Americana),
revela que, além do ganho de
peso provocado pelos medicamentos, as crianças também
apresentam aumento das taxas
de colesterol, triglicérides e insulina no sangue, principais fatores de risco para as doenças
cardiovasculares no futuro.
Foram estudados 205 pacientes com idades entre quatro e 19 anos, tratados com quatro antipsicóticos -os princípios ativos são olanzapina, quetiapina, risperidona ou aripiprazol- durante 12 semanas.
Após 10,8 semanas de tratamento, as drogas tinham levado a ganhos de peso entre 4,4 kg
e 8,5 kg. No grupo controle (que
não recebeu os medicamentos), o aumento de peso foi insignificativo, segundo o estudo
-menos de 200 gramas.
"Cada um dos antipsicóticos
avaliados esteve associado a
um significante aumento de
gordura e da circunferência abdominal nas crianças. No geral,
de 10% a 36% dos pacientes estavam com sobrepeso em 11 semanas", escreveram os autores
do estudo, que foi tema de editorial no "Jama".
As drogas olanzapina e quetiapina também contribuíram
para o aumento dos níveis de
colesterol total no sangue, triglicérides e glicemia. Com a risperidona, houve elevação dos
triglicérides. Com a aripiprazol, as mudanças metabólicas
não foram significativas.
Segundo a pediatra Isabela
Giuliano, professora da Universidade Federal da Santa Catarina e especialista em cardiologia
infantil, os antipsicóticos também têm provocado quadros de
hipertensão infantil.
Ela conta ter atendido um garoto de nove anos cuja pressão
arterial estava elevada, em 15 x
9 (o normal para a idade é uma
pressão de 11 x 7). A criança usa
antipsicótico em razão do diagnóstico de hiperatividade e deficit de atenção severo. Agora, o
menino passou a precisar também de anti-hipertensivo.
"Essas alterações metabólicas provocadas pelos antipsicóticos aparecem muito rapidamente. São crianças que ganharam seis, oito, dez quilos e têm
o quadro metabólico todo bagunçado. A obesidade nesses
casos é mais difícil de tratar em
razão da falta de autocontrole
desses pacientes", explica.
Para ela, um dos caminhos é
selecionar bem os casos que
mereçam ser medicados: "Minha percepção é que estão indicando antipsicóticos mais do
que deveriam". Outro é investir
em prevenção desde o início do
tratamento. "Incentivar a atividade física funciona bem."
Compulsão
O psiquiatra infantil Fábio
Barbirato, da Santa Casa do Rio
de Janeiro, explica que a maioria dos antipsicóticos causa aumento de peso tanto em crianças quanto em adultos. "Essas
drogas aumentam a compulsão
alimentar. O que a gente indica
é uma reeducação alimentar,
para diminuir a ingestão de calorias, e um aumento de atividades físicas. É a maneira que a
gente tem para minimizar os
efeitos", afirma.
Na avaliação do médico, outra alternativa são as novas drogas, como o aripiprazol, que
causam menos efeitos cardiometabólicos. Por outro lado,
chegam a ser 40% mais caras. O
tratamento mensal com o aripiprazol, por exemplo, custa R$
500, enquanto com as outras
drogas, sai em torno de R$ 300.
O aumento de peso em crianças e adolescentes relacionado
ao uso de antipsicóticos também foi verificado em estudo financiado pelo governo dos
EUA, que ainda está em desenvolvimento. Resultados preliminares foram apresentados
no último congresso de psiquiatria nos EUA, em maio.
Após 12 semanas de tratamento, houve elevação da gordura corporal, de triglicérides
no sangue e uma diminuição na
sensibilidade à insulina (primeiro passo para o diabetes).
Os pacientes tinham entre
seis e 18 anos. Os primeiros 57
casos avaliados mostraram que
houve aumento de 14,8 pontos
percentuais no IMC das crianças, além da elevação nas taxas
de triglicérides no sangue.
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