São Paulo, sábado, 29 de maio de 2010

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Maternidades de SP oferecem leite artificial a recém-nascidos

Prática é corriqueira, mas contraria orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria e da OMS

Hospitais dizem que só dão suplemento em alguns casos; médicos defendem aleitamento exclusivo até 6º mês

Caio Guatelli/Folhapress
A assistente de importação Carla Pestana, com as filhas Tarsila e Manuela; as meninas tomaram leite artificial no hospital onde nasceram, em Santos

RACHEL BOTELHO
GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO

Maternidades andam oferecendo complemento alimentar a recém-nascidos, o que prejudica o aleitamento e contraria regras da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Breno, 11 meses, nasceu na Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Até ter alta, recebeu leite artificial. Justificativa: a mãe precisava descansar do parto. "Eu e ele estávamos bem, não tinha razão para isso", diz a mãe, a professora Lívia Ledier, 29.
Na época, a mãe de Breno não questionou o hospital. "Estava muito emocionada." Em meio ao turbilhão do pós-parto, a falta de informação dos pais sobre a importância da amamentação exclusiva abre uma brecha para essa conduta nas maternidades.
"Infelizmente, isso é comum", diz Keiko Miyasaki Teruya, da Sociedade Brasileira de Pediatria, entidade que prega amamentação exclusiva até os seis meses.

GÊMEOS
A assistente de importação Carla Pestana deu à luz duas meninas na Casa de Saúde Santos. "Eu estava ótima", diz. Mas deram complemento para Manuela e Tarsila.
O leite não descera no segundo dia e, conforme a enfermeira, as gêmeas não podiam esperar mais.
"A pediatra me convenceu de que eu não teria leite para as duas e que entraria no leite artificial mesmo", diz Carla.
Segundo Teruya, o bebê pode ficar até cinco dias sem comer, e a mãe pode muito bem amamentar dois bebês.
É o que diz a pediatra Elsa Giugliani, do Ministério da Saúde. "A produção de leite só depende do estímulo."
A OMS tem uma lista de razões aceitáveis para o uso do leite artificial. Mas há situações não listadas em que a complementação se justifica, como quando o bebê ou a mãe tem algum problema.
Laís nasceu em abril, na maternidade São Luiz. Com hipotonia (problema que dificulta a sucção), tomou suplemento por sonda, na UTI. O médico disse que a mãe deveria esperar para dar o seio.
"Dois dias após nascer, ela já ficava no meu peito e tomava complemento na mamadeira depois", diz a pedagoga Cristiana Odakara, 32.
Para Teruya, está errado. "Se o bebê não tem sucção, o certo é dar leite materno por sonda, depois por copinho e depois estimular a sugar."
Para a mãe, a mamadeira acostumou Laís a esse tipo de bico, acelerando o desmame.
A arquiteta Fernanda Eiras teve prematuras na Pró-Matre. Custou a se recuperar, não amamentou-as logo. As crianças foram consideradas de baixo peso. A complementação foi recomendada.
"O ideal é leite da mãe ou do banco. Artificial, só em último caso", diz Giugliani.


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