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OMS eleva alerta de risco de câmara de bronzeamento
Revisão de estudos concluiu que as chances de ter câncer de pele aumentam em 75% quando a exposição ocorre antes dos 30 anos
Técnica emite raios UVA, que estão relacionados a um maior risco de melanoma, o tumor mais agressivo; não há segurança, diz médico
CLÁUDIA COLLUCCI
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Iarc (Agência Internacional para Pesquisa do Câncer),
um braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) na área
oncológica, aumentou o nível
de alerta das câmaras de bronzeamento artificial. Elas deixaram de ser "prováveis cancerígenas" para representar uma
causa concreta de tumor de pele -a mesma relação entre o cigarro e o câncer, por exemplo.
As câmaras de bronzeamento artificial emitem, principalmente, os raios UVA. E é justamente essa radiação que está
relacionada a um maior risco
de melanoma, o tipo mais
agressivo de câncer de pele.
Na Inglaterra, o melanoma
passou a ser o tumor de pele
mais frequente entre mulheres
na faixa de 20 anos. No Brasil,
ele responde por 4% dos cânceres de pele (em torno de 6.000
casos por ano), e a incidência
maior está na faixa dos 50 anos,
com igual proporção entre homens e mulheres.
O alerta dos especialistas da
Iarc consta de uma revisão de
20 estudos científicos, que será
publicada hoje na edição on-line do "Lancet Oncology" -não
houve ainda um anúncio oficial
da OMS a respeito. O trabalho
concluiu que o risco de câncer
de pele aumenta em cerca de
75% quando as pessoas começam a usar câmaras de bronzeamento antes dos 30 anos.
Um dos estudos que fizeram
parte da revisão foi realizado na
Noruega e acompanhou 100
mil mulheres durante dez anos.
O trabalho, apresentado no último congresso mundial de melanoma, ocorrido em maio em
Viena (Áustria), mostrou que
houve um aumento na incidência de melanoma em todas as
faixas etárias, especialmente
abaixo de 35 anos.
"Mesmo em pacientes que
começaram o bronzeamento
nos últimos cinco anos, ou seja,
com lâmpadas mais modernas,
que, teoricamente, seriam mais
seguras, houve aumento na incidência de melanoma. Já está
muito bem demonstrado que
bronzeamento em câmaras não
é bom", diz o oncologista João
Duprat, responsável pelo departamento de oncologia cutânea do Hospital A.C.Camargo.
Para ele, não há lâmpadas seguras quando se trata de bronzeamento artificial. "Ela [a
lâmpada] precisa de UVA para
dar o bronzeamento, e UVA aumenta o risco de melanoma."
Segundo Duprat, o marketing da indústria de equipamentos se apega em dados de
outros tipos de câncer de pele
mais frequentes e menos agressivos, como carcinoma basocelular, que não estão relacionados aos raios UVA. "Eles vendem como sendo uma lâmpada
que não causa tumor de pele.
Mas não é verdade. Ela "só" vai
causar o pior deles", afirma.
Para o médico Dorival Veras
Lobão Filho, especialista da
área de dermatologia do Inca
(Instituto Nacional de Câncer),
as câmaras de bronzeamento
deveriam ser proibidas para
fins estéticos. "Na melhor das
hipóteses, os raios UVA causam
envelhecimento da pele. E não
há dúvida de que aumentam os
riscos de melanoma."
A médica Célia Kalil, membro da diretoria da Sociedade
Brasileira de Dermatologia,
também defende que as câmaras "nunca deveriam ser usadas
para fins estéticos". "Elas têm
uma indicação para tratamento
de algumas doenças, como vitiligo, psoríase e atopia. Nesses
casos, a exposição é extremamente controlada por um dermatologista e não passa de um
ou dois minutos. Nos casos de
bronzeamento, a pessoa fica 15
ou 20 minutos lá dentro."
A dermatologista Selma Cernea, coordenadora da campanha contra o câncer de pele da
Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que a radiação UVA tem um comprimento
de onda maior e penetra mais
profundamente na pele.
Cernea pondera que, embora
seja preciso um grande número
de exposições para causar o
câncer, é fácil chegar a esse valor durante o tratamento. "Sem
contar que o efeito é potencializado se a pessoa se expõe ao sol
frequentemente e sem os cuidados adequados. Muitas vezes
a pessoa tem fatores de risco
que nem conhece", diz ela.
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