São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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Risco de demência é 4 vezes maior entre idosos deprimidos

Muitos casos de depressão após os 60 não são tratados, porque sintomas são confundidos com sinais de velhice

Distúrbio de humor na terceira idade também agrava problemas cardiovasculares e preocupa especialistas

GUILHERME GENESTRETI
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Idosos com depressão estão mais propensos à demência. O risco de desenvolver o quadro é quatro vezes maior nesses pacientes, segundo o psiquiatra Jerson Laks. Ele participa do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que vai até amanhã, em Fortaleza.
"A própria depressão, às vezes, é sinal de estágio inicial de demência", diz Laks, que coordena o centro de idosos do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Em torno de 60% dos pacientes com demência apresentam também quadros de depressão. "O diagnóstico para diferenciá-las é difícil e os médicos precisam estar preparados para suspeitar das duas doenças e tratá-las", alertou Laks. Fatores biológicos, como a progressiva atrofia do cérebro, e psicossociais, como isolamento, falta de suporte familiar, inatividade e exposição a situações de luto favorecem o aparecimento de distúrbios de humor nas pessoas mais velhas.

SEM TRATAMENTO
"No idoso, a depressão é diferente. E pode ser muito perigosa, porque aumenta ou agrava a incidência de problemas cardiovasculares.
A mortalidade de pacientes depressivos internados por causa dessas doenças é muito maior", diz Laks. O pior é que muitos idosos com depressão não são tratados. O diagnóstico não é feito, os sintomas são confundidos com os da própria velhice, segundo Sérgio Luis Blay, coordenador de psiquiatria geriátrica da Associação Brasileira de Psiquiatria.
"Pacientes e familiares pensam que tristeza e indisposição estão ligadas à idade e não buscam ajuda", diz Blay, alertando para a importância de consultar um médico em caso de mudança no comportamento do idoso.

PREVENÇÃO
Diagnosticada a depressão, o idoso deveria receber acompanhamento de grupos de apoio ou recorrer a sessões de psicoterapia. Falta suporte social para esse público, afirma Jerson Laks: "As famílias fazem tudo o que podem, mas faltam políticas públicas que informem sobre o problema e promovam centros de convivência para a terceira idade".
Os especialistas concordam que centros de convivência, grupos de reunião para práticas esportivas e viagens de lazer são muito importantes para prevenir a melancolia.
"Essas ações têm caráter mais social do que terapêutico, mas são essenciais, porque o isolamento e a inatividade podem desencadear a doença. Porém, se o problema já estiver instalado, é necessário contar com grupos de apoio e centros de saúde especializados, que são incipientes", afirma Blay.
"Não é só porque a pessoa é idosa que é normal ela ser depressiva. Esse estigma precisa mudar", conclui Laks. Com o estreitamento da pirâmide etária e o aumento do número de idosos, a depressão deve se tornar o maior desafio de saúde pública no futuro, segundo especialistas.
"A incidência de depressão entre idosos é muito alta e tende a ser crônica. Como é essa a faixa que mais cresce no mundo, a depressão será a doença mais preocupante", afirma Laks.

O jornalista GUILHERME GENESTRETI
viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria



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