|
Próximo Texto | Índice
4 a cada 10 rinoplastias precisam ser reparadas
Levantamento é da regional paulista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Além das seqüelas estéticas, cirurgias malfeitas podem provocar alguns problemas funcionais no nariz, como dificuldade de respiração
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
De cada cem narizes operados por cirurgiões plásticos, 40
têm que ser refeitos em novas
cirurgias. Desses, um terço demanda enxertos para corrigir
problemas funcionais-como a
dificuldade de respiração- que
surgiram por causa da retirada
excessiva de cartilagem do nariz. Os dados são da regional
paulista da SBCP (Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica).
O alto índice de problemas
na rinoplastia, a terceira cirurgia plástica mais realizada no
país -só perde para a cirurgia
de mama e a lipoaspiração-, e
o receio de sofrerem processos
de pacientes insatisfeitos têm
levado cirurgiões plásticos a
"terceirizarem" o trabalho, ou
seja, encaminharem seus pacientes a colegas ultra-especializados em narizes.
O rinoplasta João de Moraes
Prado Neto, presidente da regional paulista da SBCP, afirma
que cada vez mais tem recebido
pacientes que desejam refazer
uma cirurgia anterior (rinoplastia secundária) ou retocá-la
para corrigir pequenos defeitos. "São pacientes que já fizeram duas, três e até nove cirurgias para correção de rinoplastias anteriores que não deram
certo", disse o cirurgião, que,
no dia da entrevista, havia atendido duas pacientes-com duas
e três cirurgias anteriores- e
que desejavam refazê-las.
Quanto maior o número de
intervenções, menor é a chance
de o paciente ter o nariz sonhado, explica Prado Neto. Após a
primeira cirurgia, forma-se um
tecido fibrótico (doente) na cicatriz, com menos vascularização e mais difícil de ser descolado. "A cada cirurgia torna-se
mais e mais difícil descobrir essas estruturas, identificar o defeito e reconstruir o nariz."
Além das seqüelas estéticas
(como um nariz torto), um procedimento malfeito pode provocar problemas funcionais. O
mais freqüente, segundo o cirurgião Nelson Heller, coordenador da área de rinoplastia da
SBCP, são lesões nas válvulas
nasais -em geral, por retirada
excessiva de cartilagem-, que
prejudicam a função respiratória do paciente.
"As válvulas têm uma espécie
de "mola" que contraem na respiração e relaxam na expiração.
Se corta demais essa região, essa mola fica prejudicada."
Quando há comprometimento funcional ou estético, a
alternativa do cirurgião é recorrer ao enxerto de cartilagem
(do septo ou da orelha) ou de
osso (retirado da calota craniana, por exemplo) para preencher a área lesada na cirurgia
anterior. Isso acontece em até
70% das rinoplastias secundárias, segundo Prado Neto.
O cirurgião Nelson Heller
conta que metade dos pacientes que o procuram para refazer cirurgias anteriores (20%
da sua clientela) o fazem em razão de complicações provocadas por substâncias de preenchimento (metacrilato).
"A chamada bioplastia nasal,
diferentemente do que se propaga, tem riscos, pode provocar
reação inflamatória e causar lesões que só podem ser corrigidas por uma cirurgia plástica."
O cirurgião plástico José Tarik, presidente da SBCP, diz
que a entidade não proíbe o uso
do metacrilato na rinoplastia,
mas recomenda muito cuidado.
"Às vezes o paciente pensa que
estará tendo um ganho porque
não se trata de um procedimento invasivo, mas pode haver reações que, inclusive, geram uma necrose no nariz."
Ele afirma que as seqüelas
graves na rinoplastia são exceções. "A maioria são pequenos
retoques normais e esperados.
Trata-se de uma cirurgia milimétrica e pode acontecer de
aparecer pequenos detalhes
que precisam ser corrigidos."
Tarik diz que é comum os cirurgiões encaminharem pacientes a colegas com mais experiência em determinadas cirurgias. "Eu mesmo já encaminhei uma paciente que havia
feito quatro cirurgias plásticas
e ainda não estava satisfeita
com resultado. Como não estou
habituado a operar narizes
quartenários [que passaram
por quatro cirurgias], encaminho com muita tranqüilidade."
Próximo Texto: Cirurgia é uma das mais complexas Índice
|